sábado, 5 de fevereiro de 2011

Lição 7 - Posições aparentes

                                                                
Posições aparentes
Saudações, amigos leitores desta página. A lição de hoje trata de um tema muito interessante. Isto se apresenta em muitas partidas e, quando acontece conosco, nos lamentamos e inventamos uma série de desculpas e lamentos quando perdemos a partida. 
LIÇÃO 7: POSIÇÕES APARENTES 
Vamos explicar um caso que para os jogadores novos resulta difícil compreender; Quer dizer, difícil de explicar porém fácil de fazer. Esclareçamos: um jogador, em certo momento da partida ACREDITA QUE CHEGOU A UMA POSIÇÃO BOA (e pode ser boa), O JOGADOR SABE QUE É BOA E NO ENTANTO NÃO JOGA COM A PRECISÃO REQUERIDA E PERDE. Parecia-lhe que "já estava ganha" e se jogasse "qualquer coisa" ganhava. Porém faz uma "capivarada" e perde. Depois ouviremos suas lamentações: "Eu estava melhor, fiz uma capivarada e perdi". 
Outros, mais impacientes, quando acreditam que estão melhor, lançam-se sobre as posições inimigas e perdem. Destes ouviremos: "eu estava muito melhor, fiz um ataque furioso, vi tudo claramente, mas me equivoquei e perdi". Isto se chama não ter tranqüilidade e se deve à inexperiência. QUANDO SE ESTÁ MELHOR, NÃO SE DEVE ACREDITAR QUE COM "QUALQUER COISA" SE GANHA; deve-se tratar de conseguir o máximo da posição, sabendo que, assim como se obteve a posição melhor, deve seguir pensando para arrematar a partida. Contra essas "capivaradas" não se pode dar regras fixas, porém se pode dar alguns conselhos e estes surgirão da partida que hoje vamos analisar. 
Acontece comumente que o aficionado que "está ganho" fique nervoso e faça uma "capivarada" (má jogada). Como se deve fazer para não cair nesse erro? Um dos conselhos seria: NÃO PENSAR QUE "ESTÁ GANHO" E SEGUIR BUSCANDO A MELHOR JOGADA. E outro: CALCULAR NÃO SÓ SEUS PRÓPRIOS MOVIMENTOS, MAS TAMBÉM OS DO ADVERSÁRIO.
Existem muitas posições "aparentes" nas quais quem "ACREDITA" que está melhor não está. Ou, se está, é tão pouca a diferença que não o autoriza a pensar que "está ganha".
A partida que veremos mostra uma dessas "posições aparentes" e foi jogada no torneio de Londres entre os mestres Bogoljubov e Winter, que era campeão inglês nesta época. O primeiro era um jogador muito mais acostumado a grandes torneios, muito mais "cancheiro" que o campeão inglês, e jogou toda a partida com tranqüilidade, pensando que podia superá-lo no momento que achasse oportuno.

BRANCAS: BOGOLJUBOW
NEGRAS: WINTER
1.d4 Cf6

A mais elástica.

2.Cf3

Limita as variantes do negro.

2...e6 3.c4 Bb4+

Bogoljubow preconizava este xeque como o melhor para as negras. Agora lhe tocará refutar seus próprios conselhos. Contra 3......Bb4+ dizia Bogoljubow que o melhor é 4.Bd2; porém não o faz, porque calcula que joga com um rival inferior e deseja metê-lo em variantes que talvez não conheça.

4.Cbd2 

Isto se faz com a idéia de atacar, mais adiante, o bispo negro com a3, forçando a troca pelo cavalo. Se o cavalo branco tivesse saído por c3, ao se produzir esta situação, os peões seriam dobrados na coluna do bispo da dama e Bogoljubow quer evitá-lo.

4...b6 

O negro prepara um fianchetto de dama, que neste caso não é indicado porque o peão do rei branco ainda não foi movido e, então, as brancas podem opor um fianchetto de rei, que como já sabemos é superior. Porém Bogoljubow não quer jogar "o normal" e faz:

5.a3 Bxd2+

Evidentemente, se 5...Ba5 6.b4 perdendo peça e 5...Be7 perde um tempo. O melhor era trocar, tal como havia previsto Bogoljubow. Com o que se deve tomar este bispo? Descartemos o rei, por razões óbvias. Se o capturamos com o bispo branco 6.Bxd2 Ce4 e teria que trocá-lo pelo cavalo; se 6.Dxd2 Ce4 e perdemos um tempo.

6.Cxd2 Bb7 

Evita e4.

7.Dc2 

Para fazer e4.

7...d6 

Se 7...d5, o caminho do bispo ficaria fechado.

8.b4 

Para fazer o fianchetto.

8...0-0 9.Bb2 

Natural.

9...c5 

Teria sido conveniente primeiro prepará-lo com 9...Cbd7.

10.e3 Cbd7 dxc5 

O branco toma o peão do bispo com o peão da dama para abrir a diagonal de seu bispo e para colocar o negro num dilema. Nisto demonstra sua tranqüilidade. SEMPRE QUE SE POSSA COLOCAR O ADVERSÁRIO EM UM DILEMA NÃO SE DEVE PERDER A OPORTUNIDADE. Há que jogar também psicologicamente. Porque se em certo momento há várias jogadas ruins e uma só boa, devemos "obrigar" o adversário a encontrá-la. E se não a encontra... Ao negro se lhe coloca este problema: com o que deve retomar? Descartemos o cavalo. Restam d6 e b6. Sabemos, como regra geral, que se deve tomar com o peão mais distanciado do centro. Porém NO XADREZ NÃO HÁ REGRA FIXA; NÃO SE PODE REDUZIR O XADREZ A PÍLULAS, PORQUE ENTÃO SERIA QUESTÃO DE SE TOMAR A DOSE INDICADA E O JOGADOR GANHARIA TODAS SUAS PARTIDAS. Toda regra tem exceções e este caso é a exceção. HÁ QUE JOGAR SEMPRE PENSANDO E NÃO SUPERESTIMAR NOSSOS CONHECIMENTOS DE TAL OU QUAL REGRA.

11...dxc5

Com esta jogada, restam no flanco da dama 3 peões contra 3. Se 11...bxc5, o peão da casa a7 fica isolado e, com 12.b5, o branco teria 3 peões contra 2 no flanco dama, o que lhe daria uma superioridade que logo poderia aproveitar. Por isso, sempre há que analisar. E agora é ao branco que se lhe coloca um problema: sua vantagem está em que conserva o par de bispos, porém, em troca, seu rival já tem todas as peças desenvolvidas, enquanto ao branco falta desenvolver o bispo rei e rocar. Pode sair este bispo? Analisando-se um pouco, pode-se ver que sim.

12.Bd3 Dc7 

Ameaça o futuro roque. Se 12...Bxg2 seguiria 13.Tg1 Bb7 14.Bxh7+ e se 14...Cxh7 15.Txg7+ Rh8 16.Dxh7#.

13.0-0 Ce5 

A ninguém se lhe ocorreria trocar o bispo pelo cavalo, porque o par de bispos apontando para o roque adversário é muito forte; não seria negócio trocar um forte bispo por um cavalo. Observemos outra coisa: o roque do negro é um pouco superior ao do branco, porque tem seu cavalo em f6 e as brancas não.

14.Ce4 

Não convém 14.Cf3 devido a 14...Cxf3+.

14...Cfg4? 
Não seria bom 14...Cxd3 porque segue 15.Cxf6+ gxf6 16.Dxd3 e as negras ficam com peões dobrados na coluna do bispo rei, enquanto as brancas teriam dama e bispo apontando para o roque, com grandes possibilidades de "montar a máquina". Estudemos o que viu Winter. Conforme a resposta das brancas, seguiria : 15.....Cxh2; 16.Rxh2 Cf3+ 17.Rh1 y Dh2++. Se o rei escapa por h3, vem também 17.Dh2+ e o mate se produz poucas jogadas depois. Havia também outra combinação parecida: 15......Cf3+ gxf3 e Dxh2++. Porém Bogoljubow, jogador "cancheiro" e experimentado, viu tudo isto, demasiado simples para um mestre de sua talha e jogou tranqüilo:

15.Cg3 

Lógica. Corta a ação da dama em h2 e destrói a combinação,


15...f5 

Esta jogada é produto da má apreciação. O negro segue calculando suas próprias jogadas, porém não as do adversário. Correto teria sido Cxd3, porém as negras não querem perder seu ataque. Bogoljubow segue tranqüilo. QUANDO FALTA O CAVALO DE f3 EXISTE UMA MANEIRA DE SUBSTITUÍ-LO DE MANEIRA EFICAZ. (que Lasker praticou muito), E QUE CONSISTE EM COLOCAR OUTRO CAVALO EM f1, onde estará melhor do que em f3 e defenderá a casa h2. Por isso joga sem afobamento.

16.Tfe1 h5 17.Be2 

Não se pode jogar 17.Cxh5 devido a 17...Cxd3 18.Dxd3 Dxh2 etc.

17...h4 

O branco joga tranqüilo, como se dissesse: "Deixe que venha", enquanto o negro continua obcecado em ganhar por mate. Fez h4 pensando: "Vou lhe destroçar!", porém sem se dar conta de que o cavalo em f1 estará melhor.

18.Cf1 h3

Forçando tudo.

19.gxh3 Dc6 

A máquina! Esta era a jogada "chave" que se reservavam as negras; entregariam o cavalo, mas armariam "a máquina", com a qual dariam mate em g2 e h1. Porém as brancas o haviam previsto.

20.e4 

A única possível.

20...fxe4 

Este é o momento justo em que se rompeu a máquina e se terminou o ataque. Winter havia calculado: 21. f3 a o que seguiria Cxf3, etc. Porém Bogoljubow respondeu:

21.b5! 

A jogada intermediária.

21...Dd7 

Que remédio?

22.Bxg4 Cxg4 23.hxg4 

As negras tem uma peça a menos; estão perdidas. Entretanto, "tiram um lance da cartola".

23...Tf3 24.Te3 

Para trocar.

24...Taf8 25.Txf3 exf3

Terminou o ataque.

26.Td1 De7 

Ameaçando "entrar" por h4.

27.Dg6 
E as negras abandonam. As negras não tem jogada satisfatória e optam por abandonar, antes de seguir uma luta desigual. 
Onde está o erro do negro? Pode-se dizer que "se equivocou" em algum movimento? Não. E, no entanto, perdeu. Agora virão os lamentos "não sei como perdi, se eu estava melhor!", dirá depois. Porém, está certo isso? Dissemos que não. 
A posição era aparente e o erro partiu de calcular seus próprios movimentos, porém não os do adversário. Não estava melhor. Acontecem muitas posições como esta, aparentes. E QUANDO UM JOGADOR ACREDITA QUE A PARTIDA ESTÁ GANHA, NÃO É QUESTÃO DE SE LANÇAR A UM ATAQUE DESORDENADO, NEM DE JOGAR "QUALQUER COISA"; HÁ QUE SEGUIR PENSANDO. ESTES SÃO MEUS CONSELHOS. NO XADREZ, É MAIS DIFÍCIL ATACAR DO QUE SE DEFENDER, porque há que encontrar sempre a jogada justa; enquanto que, para se defender, existem muitas que podem servir. Entretanto, os aficionados preferem atacar à se defender; é mais bonito, o jogador está de melhor semblante, é mais alegre. E ao contrário do que ocorre em outros esportes: NO XADREZ, O MELHOR ATAQUE É UMA BOA DEFESA. 
Bom, amigos leitores, finalizamos esta sétima lição, muito simples, porém de muita importância para nos conscientizar de que quando estamos melhor não significa que tenhamos a vitória garantida. Pense sempre antes de jogar. Até breve. 
Profesor. Erich González 
E - mail: edgonzal@luz.ve 
TRANSCRIÇÃO Pelo Profesor ERICH GONZALEZ, na Cidade de Maracaibo, Estado Zulia, Venezuela, das LIÇÕES DO Dr RAFAEL BENSADÓN, EM APONTAMENTOS TOMADOS PELO ALUNO ERNESTO CARRANZA. 
(Tradução: Elias Muniz)

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