segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Lição - 13

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Amigos leitores desta pagina. Novamente com vocês, com outra lição. Muitíssimo obrigado por seus comentários sobre as mesmas. Sudações e um abraço desde minha pátria Bolivariana, minha querida VENEZUELA.
LIÇÃO 13 AS PEÇAS INDEFESAS 
Vamos tratar de um tema que se presta para muitas manobras e tem aplicação em quase todas as partidas. Refiro-me às peças indefesas e às peças mal defendidas. São dois conceitos parecidos porém não iguais. Não é necessário dizer que uma peça indefesa é aquela que não tem apoio de nenhuma outra. Porém, uma peça mal defendida é a que está defendida, porém não o suficiente e pode, portanto, ser atacada e capturada. Por exemplo: uma peça mal defendida seria a que estivesse apoiada por um peão ou outra peça "cravada"; de maneira que, se atacada, essa peça mal defendida, seu apoio é nulo, desde que se possa tomar e o adversário não possa retomar com a "cravada". 
A PEÇA INDEFESA SE APRESENTA EM QUASE TODAS AS PARTIDAS. Nas aberturas, os aficionados tratam de desenvolver suas peças e se esquecem que estas podem ficar sem apoio. Isso só dá tema para combinações do rival. Há que movê-las harmonicamente, sustentando-as entre si. E aquele que não o faz, sofrem com combinações que lhes ganham uma peça. Depois dirá: "Me equivoquei; se não me esqueço da peça que estava no ar teria ganho". Porém, a verdade é que isso não teria ocorrido se não houvesse deixado a peça indefesa. 
E o que ocorre aos aficionados costuma passar também com os mestres. Até os mestres "entram" nestes caminhos. Claro que o que sabe menos "entrará" mais vezes. A partida que reproduziremos foi jugada em 1928, no torneio de Baden-Baden, entre os mestres Bogoljubow e Thomas, e começou com um Gambito de dama, que já comentamos em lições anteriores. 
BRANCAS: BOGOLJUBOW 
NEGRAS THOMAS 

1.d4 Cf6 2.c4 e6 3.Cf3 
Dissemos, outras vezes, que mover o cavalo do rei a 'f3' era melhor no segundo lance, antes de c4, porque limitava as variantes do negro. Bogoljubow com um procedimento inverso obtém a mesma posição. Por que move agora este cavalo e não o cavalo dama a c3? Por um estudo que ele fez do gambito de dama e que leva seu nome: "Defesa Bogoljubow": Se tivesse feito 3.Cc3 as negras poderiam jogar (se quisesse) 3...Bb4 cravando este cavalo e entrando na defesa Nimzovitsch, que comentamos em outra lição.

3...d5 
Porém ao não ter desenvolvido o cavalo dama, caso as negras joguem: 3...Bb4+ que constitui a citada defesa Bogoljubow, a coisa é diferente porque as brancas podem eleger entre três jogadas: 4.Bd2, 4.Cbd2 ou 4.Cc3 (não é recomendável 4.Cfd2 porque perde um tempo). Dessas três possibilidades, Bogoljubow recomendava 4.Bd2 seguindo Bxd2; visto que se o bispo negro se retira terá perdido um tempo.] Entretanto, Thomas não "entrou" nessa defesa , não dá este "gosto" a seu adversário, anda que mais não seja, pelo que dissemos: É BOA TÁCTICA NÃO DAR "GOSTO" AO RIVAL

4.Cc3
Já não há mais defesa Bogoljubow.

4...c6 
Isto é um pouco tímido, como idéia geral. Nesta posição, o negro pode escolher entre: c5, Cbd7 ou Be7. Fez c6 para ver como o branco respondia, talvez com o propósito de jogar uma Cambridge-Springs caso seguisse 5.Bg5. Esta defesa consiste em levar a dama negra à casa a5 e o bispo a b4, pressionando o cavalo "cravado" para, logo, fazer dxc4 e há muitas chances de capturar o bispo de g5. Não podemos nos deter neste estudo. Diremos somente que a melhor maneira de evitar a Cambridge-Springs é jogar 5.e3 (como fez Bogoljubow) e já não há ameaças fortes sobre o cavalo cravado porque este se descrava facilmente com Bd2.

5.e3 Cbd7 
Espera.

6.Bd3 
Segue o plano conhecido.

6...dxc4 
NO GAMBITO DA DAMA, HÁ QUE ESPERAR O MOMENTO EM QUE AS BRANCAS DESENVOLVEM O BISPO REI PARA TOMAR O PEÃO DO BISPO DAMA. COM ISSO, ENQUANTO RETOMAM O PEÃO COM O BISPO, AS BRANCAS PERDEM UM TEMPO
Por haver sabido esperar, as negras ganham um tempo, que nesta abertura é só uma pequena vantagem, como veremos mais adiante.

7.Bxc4 b5
A VARIANTE DE MERANO. Sabemos que na abertura de peão dama o bispo dama das negras não entra em jogo facilmente, devido ao fato de que suas diagonais estão interrompidas pelo peão de e6 e pelo peão de b7. Antigamente, costumava-se jogar 7...b6 para logo desenvolver este bispo por fiancheto. Porém, no torneio de Merano, surgiu esta variante (7...b5) com a qual o bispo dama negro poderá logo desenvolver-se por fiancheto, enquanto ganha um tempo, já que aproveita a má situação do bispo rei branco (depois de tomar Bxc4). Onde pode ir este bispo? A "b3" ou voltar para onde estava (Bd3), que é a mais usual, dado que dali ameaça o ponto h7.

8.Bd3 
Dizíamos que o branco perdeu outro tempo e, com este, já são 2 os tempos perdidos, pois primeiro levou seu bispo rei a d3, logo, com o mesmo bispo, toma um peão em c4 e agora volta a d3. Quer dizer que necessitou de 3 tempos para instalar mais ou menos bem seu bispo rei em d3. Porém, tudo isto é aparente. Porque o problema das negras ainda não está resolvido. Se desenvolvem seu bispo dama a b7, sua ação estará interrompida por seu próprio peão de c6. Então, terá que avançar este peão para que o bispo "jogue"; mas se avançam o peão a c5, o peão de b5 fica sem defesa, o que obriga a perder um tempo em defendê-lo primeiro com a6. É um tempo que o branco recuperará e que, somado ao que será usado em avançar o peão bispo dama, serão dois. 
Enfim, seria necessário muito espaço para ver todas as variantes e, sobretudo, saber a última novidade, a última moda. Vocês devem ter observado que as mulheres saem de repente à rua levando chapéus pontiagudos, depois achatados, logo, de cores vivas, mais tarde, de cores opacas, etc. Nós rimos desses chapéus, porém elas não nos levam em consideração e os usam Por que? Porque estão na moda! Bem: NAS VARIANTES ENXADRÍSTICAS HÁ MAIS MODAS QUE NOS CHAPÉUS FEMININOS. É raro vocês me ouvirem dizer: "Esta variante é melhor do que aquela outra". Não. De mim ouvirão "Esta variante está mais na moda do que essa outra" o caso que hoje veremos é um deles.

8...a6
Tempo perdido, mas necessário.

9.e4
Antes de se jogar esta partida, estava na moda fazer 9.0-0 ou até 9.De2, porém, depois entrou na moda 9.e4, que aparentemente domina mais casas centrais e ameaça e5, desenvolvendo o cavalo de f6. Porém o negro não é "manco" e respondeu:

9...c5 
As negras perderam outro tempo? Aparentemente já se equilibraram os tempos perdidos por cada lado. Agora se ameaça o peão de d4 branco e, se segue e5, é evidente que mais adiante o peão de d4 será tomado, ficando muito fraco o peão rei branco. Porém, precisamente esta partida deu origem a uma série interminável de discussões sobre a força da Variante de Merano porque agora se produz uma situação interessantíssima.

10.e5!? 
Ameaça o cavalo de f6, porém as negras têm uma série de continuações também violentas, sobre as quais ainda não se disse a última palavra. Dissemos que esta partida foi jogada no torneio de Baden - Baden de 1928 e, desde então, já transcorreram uns quantos anos. Ainda assim não se sabe se 10.e5 é boa ou não. As negras replicam:

10...cxd4 
Por sua vez, estão ameaçando o cavalo branco de c3. Os teóricos, até o ano 1930, opinavam que não era bom seguir 11.Cf3xd4 porque as negras fazem Cxe5 e ficam com um peão a mais. Então seria melhor 11.exf7, porém as negras também fariam dxc3, e para retomar este peão seria necessário debilitar o flanco dama, pois bxc3 deixa dos peões isolados. 
Ou seja, que ficariam igual em material, porém as brancas com dois peões isolados. Nessas discussões os "sabios" se perderam 5 anos. Analisando, analisando, houve quem opinou que melhor era tirar o cavalo branco a e2 ou a e4, porém então as negras jogariam 11.......Cg4 e se 12.Cxd4, fariam Cg4xe5 ou, também, pudessem Cd7xe5, apoiando o outro cavalo. 
Enfim, um trabalho bárbaro. De tudo isso, nasceu outra idéia, que é a última moda, o último alarido. Dizem "Já que se nos decidirmos a jogar 11.exf6, devemos nos resignarmos a perder o cavalo de c3 (debilitando esse flanco), o melhor seria entregar, desde já, este cavalo, porém a custa de um peão inimigo e debilitando seu flanco dama". Assim:

11.Cxb5 
Aqui também se produzem uma série de sub-variantes que não podemos nos deter a analisar. Se os teóricos gastaram 13 anos e ainda não o resolveram, mal poderíamos resolvê-los nós em poucos minutos. O certo é que há posições onde acabam equilibrados (5 peões contra 5) e outras onde o negro fica com os dois peões centrais, porém as brancas com dois peões "passados" no flanco dama.

11...axb5 12.exf6 
O peão em b5 do negro ficou indefeso e aqui já poderíamos falar de peças indefesas, ainda quando, ao dizer "peças", não nos referimos aos peões, senão às outras mais "gordas" (claro que um peão é uma das 32 peças do jogo e também lhe cabe este qualificativo). Se cai este peão, restarão 5 peões contra 5, já que o outro peão branco avançado também cairá.

12...e5 
Se as negras tivessem jogado, sem pensar, 12...Dxf6, então 13.Bg5 e perdem a dama.

13.fxg7 Bxg7 
Se agora cai o peão de b5, restam 5 peões brancos contra 4 negros. Porém isso é uma cilada.

14.De2
Se 14.Bxb5 Da5+ e morre esse bispo indefeso. Quer dizer: ANTES DE POR UMA PEÇA INDEFESA HÁ QUE VER MUITO BEM O QUE PODE VIR. Foi dado um apoio ao bispo para o momento em que tome o peão de b5 e, além disso, ameaça-se outra coisa: tomar o peão negro de e5 com o cavalo porque, como o peão de e5 está cravado, não poderá retomar. É um caso de "peça mal defendida". O negro trata, então, de descravar seu peão de e5, com o qual defende indiretamente seu peão.

14...De7 15.0-0
Podia tomar o peão de b5, porém isto é mais seguro. Tira seu rei de trás da dama, por algum possível ataque e pelo que veremos:

15...Bb7 
Jogada aparente. O negro desenvolve seu bispo dama, porém o deixa indefeso. Isso pode dar lugar a combinações. E se agregamos que também o bispo rei negro está indefeso, convenhamos que são detalhes muito importantes, que não escaparão a um jogador experimentado, como Bogoljubow.

16.Te1 
De novo se ameaça ganhar o peão de d4. Por que? Porque a dama está mal defendida. Atacam-na (através de e5) duas peças e só está defendida por uma; seu rei. Mais, dissemos muitas vezes que é mau ter o rei ou a dama na mesma coluna na qual, na outra ponta, está uma torre; e aqui a situação é mais grave porque estão os dois. Se um sai, o outro acaba "preso".

16...Dd6 
Escapando e defendendo. Porém já não é suficiente. Para a continuação do branco, a idéia já es fácil de captar. Recordemos o que dissemos ao falar das casas conjugadas. Uma casa crítica para o cavalo branco seria f5, de onde ataca simultaneamente a dama e o bispo indefeso de g7. Portanto, o lance "sai por si só":

17.Ch4 
Para ir a f5.

17...Rf8 
O rei negro escapa da coluna onde estão dama e torre inimigas, ao mesmo tempo em que defende um bispo indefeso. Podia ter rocado, porém seria fraco porque o cavalo branco iria a f5 e logo "entram" no flanco rei os dois bispos, a dama e, até possivelmente uma torre, destruindo o roque e ganhando por ataque de mate. Tampouco se pode falar de roque grande, pois isso seria um suicídio, já que esse flanco está completamente desguarnecido. Não se pode impedir:

18.Cf5 Df6 
O bispo em g7 acabou bem defendido porém, agora, estão "no ar" o cavalo de d7 e o bispo de b7. Então as brancas poderão especular sobre estas peças indefesas.

19.Bd2 
A ameaça é 20.Bb4+ e Cd6+ ou Ce7+ (de acordo com o movimento do rei negro), com ganhos decisivos.

19...Te8 20.Dg4
 
Não só é um ataque ao flanco rei, senão que as brancas estão combinando: através de seu cavalo, estão ameaçando o cavalo negro indefeso. No momento oportuno podem fazer Cxg7 e logo Dxd7, trocando uma peça por duas.

20...h5 21.Dh3 
Mantém ameaças.

21...Bd5 
Aqui "parece" que o negro se equivocou. Porque poderia vir a jogada que já explicamos, na qual as brancas ganham uma peça. "Parece" que não a viu, porém está tirando um lance; em bom crioulo: "se faz de burro". QUANDO NOSSO RIVAL NOS FAZ UM "REGALO" HÁ QUE DESCONFIAR. Devemos olhar muito bem antes de tomar e não esqueçamos que o outro jogador também tem dois olhos para ver e um cérebro para pensar. Somente deve-se tomar depois de uma longa análise.

22.Bxb5
Vejamos: se 22.Cxg7 Dxg7 e a 23.Dxd7 Dxg2# De maneira que não se pode ganhar uma peça. Somente se poderia trocar o cavalo de f5 pelo bispo de g7. Porém as brancas optam por tomar o peão de b5, que há tempo está indefeso, com o qual também ameaçam o cavalo negro indefeso.

22...Be6 
Esta jogada é defensiva e ofensiva, já que apóia seu cavalo indefeso e ataca duas vezes o cavalo branco. Se as brancas o defendem, perdem a iniciativa. E aqui se vê o que é ter um xeque a disposição; enquanto o rei é movido, o branco segue com a iniciativa.

23.Da3+ Rg8 
Única.

24.Cd6 
Ameaça a torre.

24...Td8 
A melhor. Defende o cavalo negro, que era a pedra de toque de todo o ataque branco.

25.Ce4 
Este cavalo ataca a dama e fica mais ou menos "centralizado". A dama negra está defendendo sua torre de d8; caso saia dessa diagonal, deixará a mesma indefesa e permitirá a "entrada" com a dama branca em e7, ameaçando duas vezes o cavalo, que está defendido só uma vez.

25...Dg6 
Se 25...Dh4 26.Bg5 e se ganha a torre. Tem que fugir daí

26.De7 
Entrou a dama na casa que dissemos. A torre deve escapar e, onde quer que vá, deixa o cavalo indefeso, que se pode matar com o bispo.

26...Ta8 
Se 26...Rh7 segue 27.Cg5+ e se ganha facilmente. Com 26...Bf6 perde-se um peão e o negro fica destroçado porque 27.Cxf6+ Dxf6 28.Dxf6 Cxf6 29.Txe5 e o branco terá dois peões a mais e a possibilidade de tomar outros. 
Não havia mais remédio a não ser mover a torre, perdendo o cavalo que, POR ESTAR INDEFESO OU MAL DEFENDIDO, CONSTITUIU A BASE DE TODAS AS COMBINAÇÕES DO BRANCO. Claro que as negras estão preparando outro lance, pois quando venha 27.....BxC farão Bf8, atacando a dama, que deixaria indefeso o bispo e as negras poderiam recuperar a peça perdida. Porém Bogoljubow viu mais além e tomou o cavalo.

27.Bxd7 Bf8 28.Dg5 
Com isto se defende indiretamente o bispo de d7.

28...Dxg5 
Se 28...Bxd7 29.Dxg6+ fxg6 y 30.Cf6+ retomando o bispo. O mesmo também se pode ver sem a troca de damas porque a dama negra está cravada. As negras "tiram" outro lance:

29.Bxg5 
Se as brancas se equivocam e fazem 29.Cxg5, então 29...Bxd7 recuperando sua peça.

29...Bxd7 30.Cf6+ Rg7 31.Cxd7 e as negras abandonam. 
Caiu esta outra peça indefesa, ficando o branco com uma peça a mais. Há também um peão de diferença e a ameaça de Bf6+. 
Por que perderam as negras? Porque durante a partida (depois da abertura) teve uma série de peças indefesas, que o branco tratou de aproveitar e o conseguiu. Isto acontece em mil e uma partidas. Vocês verão este tema em quase todas. 
Um conselho: ANTES DE DEIXAR UMA PEÇA INDEFESA, HÁ QUE PENSÁ-LO MUITO E CALCULAR O QUE SEGUE PORQUE, DO CONTRÁRIO, LOGO TERÁ QUE PERDER TEMPOS EM MOVÊ-LAS OUTRA VEZ OU EM DEFENDÊ-LAS. 
Bem, amigos, é tudo pelo momento. Logo terão a lição 14. Espero, como sempre, suas opiniões e correções a respeito. Até breve! 

Prof. Erich González 
E-mail: edgonzal@luz.ve
TRANSCRIÇÃO Pelo Professor ERICH GONZALEZ, na Cidade de Maracaibo, Estado Zulia, Venezuela, das LIÇÕES DO Dr RAFAEL BENSADÓN, EM APONTAMENTOS TOMADOS PELO ALUNO ERNESTO CARRANZA. 
(Tradução: Anderson de Jesus)
Os diagramas desta página foram feitos com o programa Chesstool 
de Guillermo Gajate.

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