terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Lição 16 - Os cavalos centralizados

                
Os cavalos centralizados
Estimados leitores desta página. Uma saudação muito cordial, de irmandade, fraternidade, carinho e respeito em nome da Revolução Bolivariana que faz de meu País uma Nação mais próspera e de progresso. 
LIÇÃO 16 - DOIS CAVALOS CENTRALIZADOS. 
Vamos seguir com variações sobre o tema das peças centralizadas. Vimos primeiro o caso de uma dama centralizada, que devido a sua enorme mobilidade pode dar "a volta ao tabuleiro" em poucos golpes, ganhando a partida. Logo vimos um cavalo centralizado, que tão só realizou 4 movimentos desde sua saída e, não obstante sua relativa imobilidade, colaborou no ataque e na defesa, sendo o principal fator da vitória. 
Hoje veremos um caso parecido, onde se centralizam dois cavalos (um por lado), porém um deles não fica imóvel em sua casa central, senão que vai e volta. Trata-se de uma partida muito interessante, jogada no torneio das nações em 1939, entre o inglês Millner Barre e o eslovaco Foltes, na qual se jogou uma abertura de peão rei que foi contestada com uma Defesa Siciliana. 
Já falamos outras vezes desta Defesa e dissemos que muitos mestres quando tem que levar as negras não contestam 1...e5 porque com isso se entraria em uma abertura de peão de rei normal e conhecida, senão que preferem jogar uma defesa irregular, e dentre elas pode-se escolher a Siciliana. 
BRANCAS: MILLNER BARRE 
NEGRAS: JAN FOLTES 
Defesa Siciliana 

1.e4 c5 
Esta é uma maneira de não estabelecer contato de peões no centro e de dominar a casa d4, que o branco disputará em seguida. A idéia é boa e se apresentará freqüentemente.

2.Cf3 Cc6 
Lógica.

3.d4 cxd4 4.Cxd4 
A casa em disputa ficou em poder do branco. Não é conveniente 4....Cxd4 por que5. Dxd4 e apesar de a dama ainda não estar "centralizada", ocupa já uma posição central e é difícil desalojá-la dali com as peças adversárias. É muito melhor atacar o peão rei branco, que não está defendido

4...Cf6 
Por que se faz isto e não a jogada lógica, que seria 4.....d6? Porque em caso de 4....d6 o branco aproveita para dominar a casa d5 mediante c4. Por outro lado, com 4....Cf6, como se ataca ao peão de e4, é necessário defendê-lo e o melhor é 5.Cc3, que impedirá logo o avanço do peão bispo dama branco.

5.Cc3 d6 
Agora se fez d6 e vemos que o negro tem a mesma posição que desejava, porém o branco não tem o peão em c4, o que seria de suma importância.

6.Be2 g6 
As negras vão fazer um fiancheto de rei, tratando de dominar o centro de longe, com Bg7. Costuma-se jogar esta variante e também e6, porém em minha opinião pessoal é melhor o fiancheto, porque o negro segue com a idéia de dominar o centro indiretamente. NO XADREZ, É BOM PERSISTIR EM UMA IDÉIA. HÁ QUE SE PROPOR A ALGO E TRATAR DE CHEGAR A CUMPRI-LO.

7.Be3 
Quando as negras tirarem seu bispo rei a g7, ameaçarão (através de seu cavalo) o cavalo de d4. Por isso o branco o refuta por antecipação com 7.Be3, que tem por base se opor ao fiancheto.

7...Bg7 8.Cb3
Esta é a jogada "da moda". Antigamente se continuava com 8. 0-0, que tem suas vantagens e desvantagens. A jogada 8. Cb3 parece um pouco ilógica, porque se a idéia do branco era sustentar o centro (e para isso fez 7.Be3), não há razão para afastar-se desta forma. Entretanto, faz Cb3 porque, ainda que se abandone em parte o domínio do centro, permite levar um ataque (hoje muito em moda), que chegou a colocar em dúvida a força da Defesa Siciliana, e que consiste em preparar um assalto de peões no flanco rei para destruir o roque negro. Eu não critico a jogada 8.Cb3. Digo simplesmente que não segue um plano harmônico, porém é boa e tem sido jogada.

8...0-0 9.f4 
Começa o "assalto" de que falávamos. Mais adiante, o branco fará também g4. Este assalto coloca em perigo a posição do negro se este não conhece bem a defesa. Também lhes direi que este ataque de peões é perigoso e difícil de conduzir. É uma arma de duplo fio porque, se fracassa, o rei branco fica muito comprometido. Porém, até agora, parece que é o mais eficaz que existe contra a Defesa Siciliana. Tanto é assim que hoje se duvida da validade dessa Defesa, precisamente por este ataque.

9...Be6 
Se o cavalo branco estivesse em d4, não se poderia jogar isso. Então, por que se fez 8.Cb3? Logo veremos.

10.0-0 Ca5! 
Eis aqui a VARIANTE TARTAKOWER. É esta a jogada justa do negro. Aparentemente, o mestre polaco Saviele Tartakower, depois de muito pensar, encontrou este movimento, que resolveu a posição das negras. 
Pode-se responder de várias maneiras. Por exemplo: 11.f5, explorando a má situação do bispo negro. Alekine em um match contra Botwinnik preferiu fazer 11.g4, e a partida resultou em empate, porém Botwinnik passou por sérios apuros. A outra que pode fazer é Cxa5, porém esta tem suas desvantagens. Quais são? Fazendo um jogo de palavras, direi que é difícil de se ver porque é muito fácil. E também porque a razão não está no tabuleiro.
Vejamos: o cavalo que o branco tem em b3, saiu de sua casa inicial e foi a f3, dali passou a d4 (tomando um peão), depois retrocedeu a b3 e, se agora faz Cxa5, resulta que terá utilizado quatro tempos em fazer todo este percurso. Em troca, o cavalo negro de a5 saiu de sua casa inicial para ir a c6 e dali a a5, no que usou dois tempos somente. A coisa é simples: 4 - 2 = 2; se o branco toma, terá perdido 2 tempos. Alguns jogadores fizeram a troca de cavalos, perdendo os dois tempos, e as negras obtiveram uma posição cômoda. Então? É melhor fazer a de Alekine (11.g4) ou seguir com a vulgar 11.f5, colocando ao negro difíceis problemas.

11.f5 Bc4 
Não é bom 11...gxf5 porque se desfaz o roque. É melhor o movimento do bispo a c4. Caso se volte atrás, terá perdido um tempo; então o lógico é combinar, aproveitando a eventual posição do cavalo em a5. Por tudo isso, a idéia de Tartakower é interessante e digna de ser estudada. O branco continua seu plano de assaltar o flanco rei, com uma jogada que ameaça muitas coisas.

12.Cxa5 
Finalmente o branco se decidiu pela troca de cavalos. Quer dizer que "deixou escorregar" dois tempos. Porém é aparente. Onde está pois a compensação? Outra vez a razão não está no tabuleiro. Vejamos: o bispo negro, que está na casa c4, saiu de sua casa inicial para e6, dali passou a c4 e, caso tome o outro bispo, resultará que terá usado três tempos para todo seu percurso. Em troca, o bispo branco de e2 realizou um só movimento. Outra vez empregamos a aritmética: 3 - 1 = 2. Donde resulta que o branco, ao tomar agora o cavalo, perde dois tempos, porém ao trocar os bispos (que é inevitável), ganha dois tempos. Façamos números: 2 -2 = 0. Os tempos estão equilibrados. E também resulta que o avanço de peões no flanco rei tem ampla compensação, porque se ganhou tempos para o ataque.

12...Bxe2 13.Dxe2 Dxa5 14.g4 Cd7 
Vamos nos deter um pouco. Até agora, o que aconteceu? Os tempos estão iguais, porém os peões avançados no flanco rei permitem ao branco certas manobras que evidentemente o negro não pode realizar. Conseqüência: há vantagem para o branco.
Façamos a análise posicional: o bispo negro do fiancheto é "bom", porém o bispo branco também é "bom". As damas de ambos os lados tem possibilidades iguais; o cavalo negro pode ser centralizado em e4, e o cavalo branco continua dominando a casa d5, que foi disputada desde a abertura, onde poderia se instalar. Conseqüência: existe leve vantagem das brancas, devido aos peões avançados, que permitem um possível ataque sobre o roque inimigo. 
Façamos a análise táctica: o bispo negro está dominando a grande diagonal do fiancheto e, em união com a dama, ataca o cavalo de c3, que poderia ser capturado, ganhando um peão. E se o cavalo sai daí, deixa sem defesa o peão de e4. Não obstante, o branco prefere levar seu cavalo a d5, ocupando uma posição central, desde onde ameaça o peão de e7, que poderia ser tomado com xeque, com o que ficariam 1 a 1. Observem que disse "posição central" e não centralizado, que não é o mesmo, porque em d5 o cavalo pode ser desalojado pelo peão de e7 do negro, e "centralizado significa que não pode ser desalojado (a menos que se sacrifique qualidade).

15.Cd5 Tfe8 
Esta parece a jogada lógica e simples para defender o peão de e7, porém logo veremos que as negras deviam ter colocado aí a outra torre. HÁ QUE LER MAIS DO QUE SE VÊ A PRIMEIRA VISTA E SABER LER NAS ENTRE LINHAS PARA GANHAR UMA PARTIDA. 
Por que era melhor Tae8? Porque a torre teria a missão de defender o ponto débil f7, sobre o qual existem ameaças depois da troca de peões. As brancas aproveitam e levam outra peça para atuar sobre o ponto f2, que é muito mais importante.

16.Df2 Ce5 
As negras "centralizam" seu cavalo; põe-no em uma casa ideal, de onde não poderá ser expulso e, caso se queira trocar, terá que ser pelo bispo "bom" das brancas. Ademais, já começam a ficar palpáveis as vantagens de um cavalo centralizado: defende sua casa de f7 e ameaça tomar o peão branco de g4.

17.fxg6 
Abre a coluna. Se 17.Dh4, com intenção de defender seu peão de g4 e ameaçar 18.f6, o negro trocaria tudo (18.....dxf6, 19.Cxf6+, Bxf6; 20.Dxf6 e Cxg4) destruindo todo o ataque branco e colocando-se evidentemente em posição superior. 
A jogada de Millner Barre é melhor porque está especulando sobre a peça sobrecarregada, que neste caso é o cavalo negro, que deve atender ao mesmo tempo à defesa do ponto f6 e o ataque do peão de g4.

17...hxg6 
Trazendo o peão mais ao centro.

18.Bd4 
Aqui vemos o que é a análise quando se tem um claro conceito da posição. O branco, com a picardia de quem sabe, trata de trocar seu bispo bom pelo cavalo centralizado. Não teme efetuar esta liquidação porque esse cavalo lhe "dá coceira". Sabemos que um bispo vale algo mais que um cavalo, porém se o cavalo está centralizado convém efetuar a troca. O negro vê a possibilidade de ganhar tempo utilizando a idéia das peças indefesas (o bispo branco) e assim o faz.

18...Cf3+ 19.Dxf3  Bxd4+
Este xeque permite defender o peão de f7. Também se poderia tomar o peão de b2, porém o negro analisa que se toma, entra a dama branca dando xeque, o que não seria aconselhável permitir. Depois que se tenha movido o rei branco (20.Rh1), caso se fizesse 20...f6 seguiria 21.g5 e logo não se poderia expulsar o cavalo branco com e6.

20.Rh1 Tf8 
Não restava mais remédio do que defender o peão de f7 com a torre, permitindo que o cavalo tome o peão de e7 com xeque. As negras estão perdidas. Vemos agora por que era melhor jogar 15.....Tae8. O branco não se faz de rogado...

21.Cxe7+ 
As brancas ganharam um peão, porém há algo mais importante: o cavalo, apesar de não estar colocado em uma posição central, pode-se dizer que já está centralizado. Por que quando volte a d5 não poderá ser desalojado dali com nada (a menos que se sacrifique a qualidade). Nem sequer fica o recurso que o branco acaba de utilizar, trocá-lo pelo bispo negro, devido ao fato de que este corre por casas de cor oposta a d5. A única peça negra que poderia fazê-lo seria o peão de e7, que acaba de desaparecer. Eis aqui, pois, um caso de cavalo centralizado (que vai e volta) e isso que agora não ocupa uma posição central.

21...Rg7 
Bem. O branco tem um peão a mais, porém o ataque é difícil; não se vê a forma de ganhar a partida. Além disso, para se opor ao cavalo branco, as negras possuem um bispo, e como a posição é aberta, teoricamente o bispo valeria mais do que o cavalo, em termos gerais. Neste caso não, porque o cavalo está "centralizado". As brancas começam por defender seu peão de b2, que está ameaçado pelo bispo, fazendo uma jogada ativa:

22.c3 Be5
Também o negro centraliza seu bispo, que não pode ser desalojado dali, salvo que se troque pelo cavalo ou se sacrifique qualidade. PORÉM, TEM POUCA IMPORTÂNCIA CENTRALIZAR UM BISPO. É melhor centralizar o cavalo ou dama, que são peças que atacam e defendem simultaneamente. CENTRALIZAR UM BISPO TEM RELATIVA IMPORTÂNCIA. As brancas começam por prevenir um futuro ataque ao peão de h2.

23.Tf2 Dd8 
A dama negra se encarrega de levar o cavalo branco a sua posição ideal, no centro. Esta dama, colocada à margem do tabuleiro, não fazia nada e, portanto, era necessário trazê-la ao centro de operações.

24.Cd5! Dh4 
A dama se meteu em uma excursão arriscada. Vemos que em união com seu bispo ameaça o peão de h2, que foi defendido por antecipação, e portanto não entranha nenhum perigo.

25.Taf1 
Triplica.

25...Tae8 26.Tg2 
As brancas ameaçam uma pequena cilada, mediante 27.g5, cortando a retirada da dama negra, para depois de jogar a Tf1 a f2 fazer 29.Tg4 e forçá-la a se retirar a h8 ou h7, onde pouco fará, para logo entrar com o cavalo em f6, etc.

26...Dg5 
A dama sai de seu encerramento, porém sabemos que esta jogada é ruim porque se coloca na mesma coluna onde há uma torre. Além disso, também o rei negro está nessa coluna, o que agrava a situação. 
Façamos uma observação à margem: Vemos aqui como um mestre de categoria (como era Jan Foltes) faz jogadas ruins; porém reconheçamos que É A POSIÇÃO QUE O LEVA A FAZER JOGADAS RUINS. A dama negra não tinha outras casas melhores para ocupar.
ALGUÉM JÁ DISSE: QUANDO SE ESGOTAM AS JOGADAS BOAS NÃO HÁ MAIS REMÉDIO QUE LANÇAR MÃO DAS RUINS. Dizíamos, há poucos lances atrás, que mesmo tendo superioridade, não era fácil para as brancas forçar a partida. Porém há pequenos detalhes que logo dão o plano a seguir. Por exemplo: agora estão na mesma coluna de uma torre branca, o rei e a dama negra. O plano "sai por si só". Se o branco colocasse seu cavalo em f5, poderia continuar o ataque, já que ele não poderá ser tomado pelo peão porque seguiria gxf5, ficando a dama e rei sob o fogo da torre branca.

27.Ce3 f6 
As negras advertem o plano do cavalo centralizado e, como não podem evitar que vá a f5, buscam dar um "escape" a seu rei por f7.

28.Cf5+ Rf7 
O rei negro ocupa a casa que havia sido preparada. Porém agora há outra coisa: a dama negra ficou encerrada. A próxima jogada também "sai por si só". E aqui temos uma partida que há pouco não se podia forçar e ganhar.

29.h4 Th8 
Entretanto, o negro tinha este recurso; crava o peão de h4 sobre o rei branco, impedindo, por agora, que possa tomar a dama. As brancas se "descravam" da melhor maneira.

30.Th2 gxf5 
30...Bxh2 seria respondido com 31.hxg5 sem temor ao xeque descoberto. Se 30...Txh4 31.Cxh4 ganhando qualidade etc.

31.hxg5 Txh2+ 32.Rg1 
Única.

32...Teh8 
As brancas não temem o xeque em h1 porque o rei branco sairia por f2 e logo e1. Por isso fazem:

33.Dxf5 Txb2 
Aqui Foltes tenta uma variante de empate por xeque perpétuo com 34.......Bh2+; 35.Rh1, Be5+ descoberto; Bh2+, etc., ou mesmo tentar forçar com 35.....Bf4+ seguido de Be3+. Porém o branco está melhor e não lhe dá tempo para consumar seus planos.

34.Dd7+ Rg6 35.Txf6+ Bxf6 
Era forçado tomar a torre porque, do contrário, o rei negro só poderia jogar 35...Rxg5 ao que seguiria 36.Dg7+ Rh4 (única) 37.Dxh8+.

36.Df5+ 
E as negras abandonam. Se: 36...Rg7 [ Tampouco serve 36...Rf7 37.Dxf6+ Re8 ( 37...Rg8 38.g6 com mate na próxima jogada.) 38.Dxh8+] 37.Dxf6+ Rh7 [ Se 37...Rg8 38.g6 e mate na próxima jogada do branco.] 38.Df7# 
Nesta partida, os dois lados centralizaram suas peças, porém no final primou o bom critério do branco que: UTILIZOU MELHOR A CENTRALIZAÇÃO DE SEU CAVALO E NÃO PERMITIU AO OUTRO QUE TIVESSE CENTRALIZADO O CAVALO NEGRO, AINDA A CUSTA DE TROCÁ-LO POR SEU BISPO "BOM". Esses detalhes ganham partidas. 
Bom, amigos leitores, é tudo, por agora. Voltarei logo com a próxima lição, desde minha pátria da Revolução Bolivariana, minha querida Venezuela.
Prof. Erich González 
E-mail: edgonzal@luz.ve 
TRANSCRIÇÃO Pelo Professor ERICH GONZALEZ, na Cidade de Maracaibo, Estado Zulia, Venezuela, das LIÇÕES DO Dr RAFAEL BENSADÓN, EM APONTAMENTOS TOMADOS PELO ALUNO ERNESTO CARRANZA. 
(Tradução: Anderson de Jesus)

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