terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Lição 18 - Debilidades do roque

     
Debilidades do roque
Prezados amigos leitores desta página. Minhas saudações e respeitos. De novo com vocês, com a lição 18. 
LIÇÃO 18 - DEBILIDADES DO ROQUE
Vamos ver um tema muito importante, que se vê em todas as partidas: as debilidades que se produzem no roque. 
Levaria muito tempo analisar tudo o que se refere a este tema. Por isso veremos o "que se possa". Sabemos que TODO ROQUE (PEQUENO) É BOM QUANDO TEM SEUS TRÊS PEÕES (PT, PC, PA) NA CASA INICIAL E UM CAVALO NA CASA f3 OU f6. Esta é a situação ideal, que nem sempre se pode ter porque as partidas de xadrez são muito cambiantes. 
No início, é possível ter essa situação ideal, porém, por necessidades da partida, pode ocorrer que o cavalo seja trocado por outra peça, ou seja expulso de f3 ou de f6, ou o levemos a outra casa etc. e então o roque se debilita. Outras vezes, se avançam os peões do roque: EM QUALQUER CASO, AINDA QUE SEJA OBRIGATÓRIO, AVANÇAR OS PEÕES DO ROQUE É UMA DEBILIDADE. E já veremos como, por qualquer destas circunstâncias, o roque perde sua força. Porém, apesar de que estabeleçamos isto como uma lei, nem sempre se mantém a posição ideal e há mais: há jogadores que não sabem explorar essas debilidades. 
Às vezes, os aficionados nem mesmo sabem que é uma debilidade, nem sabem se existe. Para eles, o melhor é ver como os grandes mestres exploram essas posições e acostumar a visão para captar o plano, que pode ser o plano ganhador. 
A partida que lhes trago foi a sétima disputada pelo campeonato do mundo entre Alekhine e Bogoljubow, no ano de 1929. Nesse match, foram jogadas muitos tipos de aberturas, porém preferentemente o peão dama.

BRANCAS: ALEKHINE
NEGRAS: BOGOLJUBOW

1.d4 Cf6 2.c4 g6 
O negro prepara um fiancheto de rei. Não é criticável isto, desde o ponto de vista posicional. Inclusive, é bem jogado hoje em dia. É bom, sobretudo quando o peão do rei não tenha sido movido. Porém, de acordo com o que acabamos de dizer sobre as debilidades do roque, vemos que há um motivo para explorar. Claro que nem sempre se pode aproveitar esta circunstância; é simplesmente uma idéia que poderia servir. Às vezes se pode explorar e outras vezes não. 
Porém, atentemos para esse detalhe que Alekhine nos ensinará nessa partida, como se deve proceder. Já dissemos que avançar os peões do roque significa certa debilidade, e das três possibilidades de avanços de peões, esta é a situação mais forte. Avançando qualquer dos outros, o negro estaria em situação mais inferior do que no caso atual.

3.g3 
O branco imita seu rival. Tudo o que acabamos de dizer também pode ser aplicado para o branco.

3...c6 
Caracteriza a Defesa Grunfeld (se 4. Cc3; d5!), que encerra certo dinamismo para o negro. Quando Grunfeld criou sua defesa, foi desconsiderado porque os maestros dessa época acreditavam que não era suficiente, porém, hoje, volta a ser avaliada. Kasparov costuma jogá-la. É bastante boa, porém conhecendo-a bem. Ademais, ainda que as brancas não entrem nessa Defesa (como ocorreu na partida), a jogada 3...c6 é elástica, já que permite jogar o peão da dama a d6 ou d5, segundo convenha (e forma uma muralha de peões contra o fiancheto branco).

4.Bg2 d5 
Sabemos que no Gambito de Dama normal as brancas podem permitir que seu rival tome o peão de c4 (d5xc4) porque sempre o recuperam. Porém, estando o bispo rei em g2, pode-se deixar esse peão sem defender e recuperá-lo? Sim, e em todos os casos se recupera. E mais: constitui uma "isca" porque o negro cairá na tentação de tomá-lo. Pode ser que não o faça na primeira oportunidade, porém na segunda ou na terceira não agüenta mais e o toma. A próxima jogada das brancas será:

5.Cf3 Bg7
Se jogam 5...dxc4 segue 6.Ce5 e as negras não tem jogada boa para manter esse peão avançado, dado que a 6...b5 vem 7.Cxc6 com ameaças à torre em a8.

6.0-0 0-0 7.Cc3 dxc4 
As negras morderam o anzol; não puderam resistir mais à tentação e tomaram o peão. Observemos que as negras são conduzidas por ninguém menos que Bogoljubow, que sabe perfeitamente tudo o que acabamos de dizer (e muito mais). Por enquanto não se vê claro se é possível defender ou não o peão avançado, por isso o negro tinha alguma razão, porém não o suficiente.

8.Ce5 Be6
Alekhine continuou seu jogo tranqüilamente, sem se preocupar em recuperar o peão. Vemos que: TUDO CONSISTE EM SABER VER AS DEBILIDADES DO CONTRÁRIO, QUE ÀS VEZES NÃO SE VÊEM PORQUE O JOGADOR NÃO TEM CONHECIMENTO PARA VÊ-LAS E EXPLORÁ-LAS. Alekhine pensou: se pudesse levar um peão a f5 atacaria o bispo mal colocado e ao mesmo tempo começaria a vulnerar o roque rival, porque (como já dissemos) o peão de g6 não é uma debilidade, porém.... poderia chegar a ser. Com essa idéia jogou previamente:

9.e4 Cbd7 
Desenvolve.

10.f4 
A ameaça é 11.f5 e como não é possível retirar o bispo as negras fazem uma manobra interessante: cravam o peão dama sobre o rei, pensando que se vem 11.f5 podem jogar Cxe5, com igualdade. Aparentemente, toda réplica tem contra-réplica.

10...Db6 
Porém, Alekhine não se assusta e faz não mais do que havia pensado:

11.f5! 
A primeira vista, parece que seu cavalo de e5 "está no ar" por ficar cravado o peão d4 e porque a 11....Cxe5 segue 12.dxe5, etc. Nisso pensou Bogoljubow, porém as coisas não são bem assim. A 11....Cxe5, as brancas respondem 12.Ca4! atacando a dama, cuja melhor jogada seria Dc7 e então o branco ganha uma peça com 13.dxe4, já que há duas peças negras ameaçadas e não se pode salvar ambas. Vemos, pois, que o que se queria evitar (11.f5!) não foi possível. Para desfazer um pouco esta desagradável posição, as negras respondem:

11...gxf5 
E já temos o desaparecimento do peão de g6 do roque negro, abrindo-se a coluna. Ainda que não seja nada, estes detalhes dão lugar a uma série de pequenas coisas, até que chega um momento em que o jogador perde a partida "e não sabe por que perdeu". Dissemos que a melhor situação do roque é com seus três peões na casa inicial e aqui, apesar de haver desaparecido um deles, não se vê maior debilidade, por enquanto...

12.exf5 Bd5 
Não seria bom, neste momento 12...Cxe5 devido a 13.Ca4! ganhando uma peça. O único lance possível é retirar o bispo. Uma rápida análise nos diz que a posição nesta partida tem tendência a ser aberta porque os peões não se bloqueiam no centro e isso significa que os bispos valerão muito mais do que os cavalos. Portanto, Alekhine não perde a oportunidade de trocar.

13.Cxd5 cxd5 
Desdobrando. O cavalo negro de f6 está sobrecarregado, porque sabemos que tem a missão de defender o roque e, nesta partida, também defende o outro cavalo de d7 e o peão de d5. O melhor é, então, desalojá-lo de sua situação de defensor. Outra debilidade para o roque.

14.Cxd7 Cxd7 15.Bxd5 
Bem; já estão iguais em quantidade de peões, porém as negras ameaçam tomar o peão central com xeque (em d4). Também as brancas ameaçam o peão em c4. Nisso e situação é equilibrada, porém o branco tem o par de bispos (superior aos cavalos nesta posição) e o negro possui o roque debilitado. O branco tampouco tem o seu muito bem, porém não se vê a forma de explorá-lo. Há que buscá-la, e nisso se aprecia a garra do jogador.

15...Tad8 
Entende que o peão de c4 não poderá ser defendido e que a torre na mesma coluna da dama ameaçará uma série de coisas que obrigará a um jogo cuidadoso. A posição é difícil e o melhor é escolher o peão que se deseja perder. Alekhine responde de forma simples e lógica: a dama contrária lhe molesta por estar na diagonal de seu rei; prefere entregar o peão de b2. Se 15...Bxd4+ vem 16.Rh1 Ce5 para defender o peão de c4 17.Dh5 com ataque forte e ganhador 17...Rh8 18.Tf4 h6 19.f6 etc.

16.Be3 Dxb2 17.Bxc4 Cb6 
Até agora, há 5 peões para cada lado, porém já esclarecemos que o branco tem vantagens devido a seus bispos numa posição aberta. Ao sair o cavalo negro da coluna de dama, seria conveniente mover a dama branca dali. Porém, como o bispo de d4 também está ameaçado, não se pode perder tempo.

18.Bb3 Txd4! 
Aqui se faz sentir a força da torre na mesma coluna da dama. É boa idéia das negras porque buscam a troca de peças, com um peão a mais, que é muito importante porque pode ganhar a partida. Como isso não convém às brancas porque no final o peão a mais se fará sentir, devem complicar as coisas para ter chances. Como? Explorando a má posição do roque negro, ao qual falta um peão e não tem seu cavalo em f6. Aproveitando que a torre negra de d4 está ameaçada e terá que perder um tempo em movê-la fazem:

19.Dh5 
Se 19.Bxd4 segue 19...Bxd4+ e a 20.Rh1 Dxa1 recuperando a qualidade, depois de haver ganho o peão central 21.Dxa1 Bxa1 22.Txa1. De passagem, diremos de novo que se o cavalo negro estivesse em f6 não seria possível levar a dama a h5. As negras devem mover sua torre e jogam:

19...Te4 
As negras consideraram que isto era o melhor porque, ao tempo em que retiram sua torre, fazem-no ameaçando o bispo indefeso. Na verdade, a posição é difícil, porém Alekhine a resolve por seu conceito da debilidade do roque.

20.f6 
Com que idéia? É um pouco oculta: trata-se de ameaçar o ponto e7, para dar mate, baseado sempre na debilidade do roque. Bogoljubow acreditou que a verdade era outra; e cometeu um erro.

20...Txe3? 
Se 20...exf6, que seria o melhor, as brancas possivelmente teriam seguido 21.Df5 para logo "montar a maquina" colocando seu bispo em c2, e como o negro não domina as casas brancas, seria muito difícil se defender. 
Esta é uma partida pelo Campeonato do mundo e vemos que até os grandes mestres cometem erros. Enfim: TODOS COMETEMOS ERROS. Bogoljubow não estava tão desacertado, porém não viu a continuação:

21.Dg5
Ameaça dar mate ou tomar a torre, ganhando, pelo menos, a qualidade. Ante tal dilema, já que vai perder sua torre, Bogoljubow prefere entregá-la tomando um peão:

21...Txg3+ 22.Dxg3 exf6
Balanço: há qualidade a favor das brancas, porém o negro tem 5 peões contra 2. Materialmente a partida está mais ou menos compensada, porém o bispo negro está encerrado e seu roque muito debilitado. O roque branco tampouco está bem, porém é difícil atacá-lo.

23.Tad1 
Retira a torre do "assédio" da dama contrária e prepara um ataque à base de Tf4 e logo Tg4, pressionando sempre sobre o fraco roque negro.

23...Rh8 
Este movimento é defensivo e ofensivo porque tira o rei da pressão da dama e ameaça levar a torre a g8, em cuja coluna estão a dama e o rei brancos. É conveniente escapar a esta pressão.

24.Rh1 Bh6
Com isso, o negro prepara 25....Tg8 e, se o desejam, podem dar "um susto" em g2, combinando a ação da torre e da dama. Há que jogar bem. Como? BUSCANDO OS PONTOS FRACOS DO CONTRÁRIO E "TRABALHANDO-OS". Pelo momento, o peão de f6 dobrado já é débil e pode ser atacado.

25.Dd6 Bg7 
Volta a defender o peão e a torre;

26.De7 
Agora se exploram outros pontos débeis: o peão de b7 negro e também (com o B) o peão de f7. Com isto, se mantém a iniciativa. Como não se pode defender os dois peões ao mesmo tempo, as negras buscam a troca de damas, que Alekhine recusará:

26...De5 27.Dxb7 f5 
Observemos que o cavalo negro tem todos seus saltos mais importantes tomados pelo bispo contrário. As negras desistem da defesa do peão de a7 e tratam de organizar um ataque à base da "entrada" de seu bispo (que também está inativo) para ver se em união com a dama poderia ameaçar a casa h2 do branco. 
Porém criaram outro ponto débil: o peão que acaba de avançar e que por estar em casa branca não poderá ser sustentado. As brancas ganham tempo:

28.Tde1 Df6 29.Df3 
O peão negro de f5 esta perdido. Bogoljubow volta a propor a troca de damas.

29...Dc3 30.Dxf5 Cc8 
As negras se cansaram de ter inativo seu cavalo e tratam de fazê-lo entrar em jogo. É tarde, porque as brancas podem "montar a máquina" que resultará muito forte, dado que toma as casas brancas e seu rival só domina as casas negras. Vemos também como: A MÁ SITUAÇÃO DO ROQUE DÁ LUGAR A QUE SE PASSE DE UMA DEBILIDADE A OUTRA , ATÉ QUE A POSIÇÃO SE FAZ CRÍTICA.

31.Bc2
Ameaça mate "seco", e já está montada a máquina colocando o negro ante o grave problema: como defende o mate? Observemos que a única peça que pode fazê-lo é a dama negra, porém esta não pode, em um só movimento, "correr" em auxilio à casa h7. Surge então, com clareza, que a única jogada possível é dar um xeque com a dama em c6, para depois levá-la ao flanco rei, em h6 ou em g6. E assim faz:

31...Dc6+ 32.Tf3 
Contra o que se esperava, Alekhine não move seu rei, nem cobre com o bispo, senão que cobre com uma torre, que logo poderá levar a h3 e seguir ameaçando o mate. Como não é possível fazer Dh6 devido a esta ameaça, as negras a levam a g6, propondo novamente uma troca de damas.

32...Dg6 
Existe uma qualidade de vantagem para as brancas, porém o negro tem três peões contra dois. A troca de damas convém porque as negras não poderão retomar com o peão de f7 devido a TxT+ e se BxT, fazem Te8 ganhando uma das duas peças. E se retomam com o peão de h7, como ocorreu na partida.... logo veremos que há algo parecido:

33.Dxg6 hxg6 34.Bxg6 
Um brilhantismo que tem sua razão de ser. Se as negras tomam 34....fxg6, vem algo parecido ao que acabamos de estudar: 35. TxT+, BxT e 36.Te8, recuperando uma peça e ficando com qualidade a mais e igualdade de peões. Para evitar isso, as negras levam seu rei em defesa da torre, porém não é suficiente, porque o branco segue "sacrificando".

34...Rg8 35.Bxf7+ 
E as negras abandonam. É evidente que se tomam: 35...Txf7 vem 36.Te8+ Tf8 37.Tfxf8+ Bxf8 38.Txc8 e como agora o rei negro deve se livrar da cravada, viria 38...Rg7 39.Tc7+ rei move e 39...Rg6 40.Txa7 chegando-se a um final em que o branco tem 2 peões e qualidade a mais. 
Bom, amigo leitores de esta pagina, VIMOS AO QUE CONDUZEM AS DEBILIDADES DO ROQUE. O DIFÍCIL ESTÁ EM VER ESSAS DEBILIDADES E SABER EXPLORÁ-LAS
Não se pode pretender que um aficionado as veja em seguida. Dou-lhe um conselho: há que acostumar o olho e, acostumando a vista.....pode-se pegar a bala. Bom, é tudo por enquanto. Até a próxima lição.
Prof. Erich González 
E-mail: edgonzal@luz.ve 
TRANSCRIÇÃO Pelo Professor ERICH GONZALEZ, na Cidade de Maracaibo, Estado Zulia, Venezuela, das LIÇÕES DO Dr RAFAEL BENSADÓN, EM APONTAMENTOS TOMADOS PELO ALUNO ERNESTO CARRANZA. 
(Tradução: Anderson de Jesus)

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