terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Lição 17 - As colunas abertas

                                                                
As colunas abertas
Minhas saudações, amigos leitores desta página. Uma vez mais, com vocês. Até agora, completamos dezessete lições, pelo que me sinto muito feliz de estar conseguindo o objetivo proposto. Obrigado por seus elogios e lhes agradeço seus conselhos e correções.
LIÇÃO 17 - O DOMÍNIO DA COLUNA DE DAMA (d1-d8) 
Na vez passada, vimos a importância do domínio da diagonal a2-g8, quando esta se debilitava ao avançar o peão de f7. Hoje estudaremos o domínio da coluna da dama aberta (d1 - d8), que é muito interessante. Para isso, escolhi uma partida jogada no Torneio de Mar del Plata entre o mestre Najdorf e o jogador Juan Iliesco, romeno de nascimento, porém estabelecido na Argentina. 
Essa partida, Najdorf perdeu, e é interessante assinalar que para perder para Iliesco, que evidentemente não era um jogador de sua força, alguma razão havia. 
Em primeiro lugar, sua derrota está relacionada com a enorme confiança que tinha o mestre ao enfrentar um jogador que sabia ser inferior a ele. Em bom crioulo diremos: lhe deu corda, sem acreditar que o outro saberia aproveitar essas vantagens para transformá-las em vitória. 
Najdorf era um forte mestre, especialista em partidas simultâneas e portanto muito amigo de "tirar-se lances". Fez isso nesta partida, porém Iliesco não era tão míope como para não ver ditas ciladas, e ao tempo em que as parou todas, QUANDO SE ABRIU A COLUNA DA DAMA (d1-d8), APROVEITOU OS TEMPOS PARA DOMINÁ-LA COM SUAS TORRES, e isso foi suficiente para conseguir o triunfo sobre o mestre. Esse domínio será o tema desta lição. 
A partida iniciou com uma abertura Zuckertort, que as negras replicaram com uma defesa simétrica. Já sabemos que a simetria não pode ser seguida indefinidamente porque chega um momento em que o branco dá mate e as negras ficam sem dar o seu. Entretanto, é boa prática para as primeiras três ou quatro jogadas: dá chances equilibradas e, não havendo perigo imediato de mate, pode-se jogar "até certo momento".

BRANCAS: J. ILIESCO

NEGRAS: M. NAJDORF

1.Cf3 Cf6 2.g3 g6 3.Bg2 Bg7 4.0-0 0-0 
Até aqui, as negras responderam com os mesmos lances que fizeram as brancas. Porém, a partir do próximo lance se separam da simetria. Ambos adversários fizeram fiancheto de rei, que tem por principal objetivo dominar a casa d5, e controlar o centro desde longe.

5.c4 d6 6.d4 Cbd7 
As brancas tentam agora dominar o ponto e5, porém nada pode impedir que as negras façam e5. Seria mau seguir 7.Bf4 devido a Ch5, fazendo perder um tempo ou forçando a troca do bispo pelo cavalo. Então as brancas abandonam essa idéia e seguem com o plano primitivo de dominar a casa d5.

7.Cc3 e5 8.dxe5 dxe5 
É melhor tomar com o peão do que com o cavalo porque o peão pode dar um ponto de apoio para um cavalo em d4, ao mesmo tempo em que controla o ponto de f4 e até ameaça para mais adiante e4, desalojando o cavalo branco de f3 e obstruindo a diagonal do fiancheto. 
Até agora, não há nada incorreto. Também não há nada da "corda" que disse no início, a qual virá depois, crendo Najdorf que Iliesco não saberia explorar as debilidades que se criava. Entre parênteses, vou esclarecer que se depois que as negras fizeram e5, as brancas tivessem recusado a troca de peões e tivessem feito 8.d5, deixariam um ponto fraco em c5, que bem poderia utilizar-se mais adiante para instalar o cavalo dama negro, para o qual o preparariam com a5 e se as brancas jogassem a3 para logo fazer b4 (sempre com a idéia de expulsar o cavalo de c5), até se poderia estudar a forma de explorar a má situação do cavalo e a torre branca na diagonal do bispo do fiancheto. Há outras posições em que as negras até podem seguir com a4, impedindo definitivamente o avanço do peão a b4 porque o tomam en pasant. 
Bem, dissemos que as negras tem a intenção de avançar (mais adiante) seu peão de rei. Vocês contestarão: "Certo, porém ao jogar 9. e4, as brancas detém esse avanço". Esse lance tem suas vantagens, posto que paralisa o peão rei inimigo e deixa sem o bispo rei negro sem jogo, mas também fica travado o peão rei branco e seu bispo rei não joga. 
Há no tabuleiro outra coisa mais importante, que precisamente é o tema de hoje. Ao se produzir a troca de peões, vemos que ficou livre a coluna da dama e já sabemos que A MELHOR FORMA DE APROVEITAR UMA COLUNA ABERTA É OCUPÁ-LA COM AS TORRES. Então, melhor do que 9.e4 é jogar o que fez Iliesco 9.Dc2, que também detém o avanço do peão do rei e reserva a casa d1 para sua torre do rei.

9.Dc2 
Teria sido mau 9.Bg5 por 9...h6 que obriga a uma definição; Tampouco convém 9.Cg5 por 9...h6 10.Cge4 Cxe4 11.Cxe4 e logo o negro expulsa esse cavalo do centro com seu peão de 'f', com seu cavalo dama em f6, ou com seu bispo dama, segundo se desenvolva o jogo. Na partida, veio o avanço do peão do rei negro, dando jogo a seu bispo rei, porém esse peão avançado precisa ser defendido porque as brancas respondem Cg5 e chega um momento em que está fraco e mal colocado. (Assim foi na partida).

9...c6
É bom porque controla a casa d5, porém não pode evitar:

10.Td1 De7 
"Tira" sua dama e apoiará o peão de e5.

11.a3 
Prepara o fiancheto.

11...Cb6 
Ataca o peão de c4.

12.b3 e4 
Aqui Najdorf se iludiu com a má posição do cavalo e da torre branca na diagonal de seu bispo rei e jogou 12....e4 para dar-lhe jogo.

13.Cd4 
Não era bom: 13.Cd2 Porque fecha a ação do bispo dama e vem 13...e3 que ocasiona muitas complicações. Tampouco serve 13.Cg5 porque o peão negro de e4 não pode ser tomado devido ao fato de que o cavalo de c3 do branco está cravado pelo bispo rei negro. E se: 13...Bf5 14.Cgxe4 Cxe4 15.Bxe4 Bxe4 16.Cxe4 Bxa1 17.Bg5 f6 ganhando.

13...a6 
Novamente Najdorf se ilude. A jogada 13...a6, é bastante superficial; certamente, contra um adversário mais forte não a teria feito e teria procurado algum plano mais profundo. As negras tomaram a última casa de escape do cavalo de d4, para fazer logo 14.....c5 e ganhá-lo. Najdorf acredita que o adversário não a verá; em outras palavras: acreditava que ganharia com qualquer coisa. Iliesco, sem pressa, dá a casa e2 para seu cavalo de d4, jogando:

14.e3 Bg4 
As negras compreendem que não podem ganhar o cavalo, porém voltam a jogar "qualquer coisa", já que, apesar de ameaçarem a torre de d1, convém ao branco que esta saia daí porque sua verdadeira intenção é dobrar as torres na coluna da dama (d1-d8), que está aberta e que lhe reportará a vitória. Najdorf está "dando corda" ao adversário, porém este joga tranqüilo.

15.Td2 Bf3
Agora o negro se dá conta de que seu peão avançado em e4 é uma debilidade e trata de liquidar essa situação. Se as brancas quisessem, já poderiam ganhar um peão com 16.Cxf3,exf3. 17.Bxf3. Ademais, com esse bispo em f3 controlam todos os saltos do cavalo rei negro. Iliesco não o tomou porque pensou que havia outras coisas. Sem se apressar, fez o fiancheto de dama (com o bispo apoiado), preparando também (para depois) trazer a torre a d1.

16.Bb2 c5 
Que se decida! Najdorf faz outra jogada psicológica. Pensou: "se antes não tomou Cxf3, tampouco o fará agora". E não se equivocou. Talvez Iliesco estivesse um pouco assustado, porém sua jogada é boa, já que cortará a ação do bispo negro em d1, permitindo colocar a outra torre ali.

17.Cde2 g5 
Para impedir 18.Cf4, porém não era essa a intenção do branco, senão dobrar suas torres.

18.Tad1! 
E já temos as duas torres muito bem colocadas na coluna aberta da dama. O negro continua sem dar-lhe importância porque tem controle sobre todas as casas dessa coluna, menos d6. Entretanto, o domínio desta coluna será decisivo.

18...Tfe8 
Consolida seu peão de e4.

19.Td6 
As torres começam a atuar. Uma delas vai à única casa que podia, porém já ameaça o indefeso cavalo negro de b6. Terá que perder um tempo para retirá-lo.

19...Cbd7 
Najdorf continua sem dar importância ao domínio da coluna da dama (d1-d8) e a seu adversário. Se tivesse pensado que as torres lhe molestariam, a jogada lógica teria sido 19....Cc8. Porém, já explicamos que ele acreditava que Iliesco não saberia aproveitar isso. Mas aqui é onde seu rival começa a jogar bem.

20.Cd5! 
Parece que entrega uma torre.

20...Cxd5 
Se tivesse tomado a torre com 20...Dxd6 seguiria 21.Cxf6+ ganhando a dama. O domínio da coluna já "dá coceira" no mestre, que trata de destruir essas ameaças. Observemos, de passagem, que o domínio da casa d5, principal objetivo desta abertura, ficou em poder do branco. Então:

21.T1xd5 Ce5 
Vemos que a situação se torna melhor para o branco, porém esse cavalo negro ameaça posicionar-se em pontos fortes. Iliesco não tem dúvida em trocar um bispo por um cavalo. A POSIÇÃO É FECHADA E, POR TANTO, OS CAVALOS VALEM MAIS QUE OS BISPOS.

22.Bxe5 Bxe5 23.Td7 
As brancas obtiveram o máximo de suas aspirações: colocar uma torre na sétima. QUANDO AS TORRES DOBRADAS DOMINAM UMA COLUNA E UMA DELAS CONSEGUE ENTRAR NA SÉTIMA LINHA, SAINDO LOGO PARA UM LADO (SE FOR POSSÍVEL TOMANDO UM PEÃO) PARA QUE A OUTRA TORRE VÁ TAMBÉM À SÉTIMA LINHA, É QUASE CERTO QUE "ESTÁ LIQUIDADA A FATURA". Iliesco conseguiu grande parte de seu objetivo.

23...De6 24.Cc3 
Com isso, o branco prepara a centralização de seu cavalo nessa casa, logo depois que tenha tirado a torre de d5 . As brancas estão jogando com mais conceito do que as negras. Ademais estão ameaçando o famoso peão de e4 do negro. Há que defendê-lo.

24...f5 
QUANDO SE MOVE ALGUM DOS PEÕES QUE DEFENDEM O ROQUE, AS TORRES NA SÉTIMA LINHA JOGAM UMA "BARBARIDADE". A partida (para o negro) é difícil de sustentar. Pode-se afirmar que está em posição perdida. Iliesco trata agora de levar também a outra torre à sétima linha e faz:

25.Txb7 
Ganha um peão.

25...Tad8 
Najdorf compreende que não pode deixar as duas torres entrarem na sétima linha e somente agora trata de disputar o domínio da coluna da dama (d1-d8). Deu-se conta muito tarde. O domínio dessa coluna já deu ao branco clara superioridade.

26.Dd2
Mantém a torre e faz uma pequena cilada.

26...Txd5 
Se 26...Bxc3 27.Dxc3 e eis aqui a cilada. Parece que se perde uma torre com 27...Txd5, porém segue 28.Dg7#.

27.Cxd5
Este cavalo já está centralizado. Somente isso (já o sabemos) basta para ganhar aqui. A partida está estrategicamente decidida. Em vista disso, e para não perder o costume, Najdorf continua "buscando lances":

27...f4 
Este lance é um pouco melhor do que os outros, porém não é suficiente. O que ameaça? É um pouco difícil de ver, porém certamente que um jogador como Iliesco o verá.

28.exf4 
Por exemplo: se o branco tivesse feito uma jogada indiferente, como poderia ser 28.Dc2 ou qualquer outra, seguiria: 28...Bxg2 29.Rxg2 f3+ e se 30.Rg1 ( É melhor 30.Rf1 Dh3+ 31.Re1 Dxh2 e o rei escapa e não é mate, ainda que a situação é comprometida.) 30...Dh3 e mate na outra com Dg2++.

28...gxf4 29.Cxf4 
Não é bom 29.gxf4 devido a 29...Dg4 e se 30.Rf1 ( porém a 30.Ce3 Dxf4 etc.) 30...Dxg2+ e mate em seguida. O negro joga com a esperança de que o outro se equivoque ao tomar. Com tudo isso, as brancas ganharam dois peões e há um terceiro na mira, que é o famoso peão avançado de e3. Já desesperado, Najdorf procura um lance da "cartola". Apesar de que sua dama está atacada joga:

29...e3 
Isto é como se atirar na água sem saber nadar. Perdido por perdido, tenta fazer com que o outro se equivoque e tenta "pescar em mar revolto". Com esse peão, que foi um dos seus problemas, ataca a dama contrária e, ao mesmo tempo, seu bispo de f3 ataca a torre branca.

30.Dxe3 
Se 30.Cxe6 exd2 e logo tratará de coroar. Porém tudo isso é aparente; tudo está "no ar" e somente pode acontecer um desastre se Iliesco se equivocar ao tomar.

30...Bxf4 
Outra vez busca que seu adversário se equivoque nas tomadas, porém as brancas simplificam:

31.Dxe6+ Txe6 32.Bxf3 
As brancas podiam escolher um dos dois bispos. Porém, se tivessem feito 32.gxf4 perdiam irremissivelmente com 32...Tg6 ( Outra variante seria 32...Te1+ 33.Bf1 Bxb7 ganhando uma torre limpa.) 33.Rf1 Bxg2+ 34.Re2 Bxb7.

32...Te1+ 33.Rg2 Bc1 
Ataca um peão.

34.Ta7 
Ataca outro peão.

34...Bxa3 35.Txa6 
Ficam 1 a 1.

35...Bb2 
QUANDO SE CHEGA A UM FINAL DE BISPOS DE CORES OPOSTAS, CONVÉM CONSERVAR AS TORRES PARA PODER GANHAR.

36.Ta7 
Para imobilizar o rei.

36...Bd4 
As negras tentarão "travar" o peão de f2 com este bispo e com sua torre.

37.Bd5+ Rh8 
Era necessário ir com o rei a h8 para não perder o peão de h7.

38.Tf7 
Defende o peão de f2.

38...Tb1? 
Tenta ganhar o peão de b3, sem advertir que coloca mal sua torre, em casa branca, que o bispo contrário dominará. Iliesco responde energicamente:

39.Txh7+ 
e as negras abandonam. É claro que se continuasse: 39...Rxh7 viria 40.Be4+ Rh6 41.Bxb1 e a vantagem de peões é mais do que suficiente. 
COMENTÁRIO: Vimos como, afinal, o "aficionado" consegue vencer o "mestre". Como pode ser isso? Devido à "corda" que lhe deu o mestre, permitindo que se apoderasse da coluna da dama aberta, o que motivou uma superioridade posicional que fui se materializando em peões de vantagem até chegar a um final com quatro peões a mais.
Entre jogadores da mesma categoria, caso se possa ter as torres dobradas na coluna da dama (aberta), a partida se decide de forma muito mais fácil. SE UM "AFICIONADO" PODE VENCER UM MESTRE PELO DOMÍNIO DESSA COLUNA, COM MAIOR RAZÃO OCORRERÁ ENTRE DOIS DE FORÇAS EQUILIBRADAS
Bom, amigos leitores desta pagina, finalizamos esta interessante lição. Espero que, a esta altura, seu nível de jogo tenha melhorado; que é meu objetivo e minha maior satisfação. Até a próxima lição.
Prof. Erich González 
E-mail: edgonzal@luz.ve 
TRANSCRIÇÃO Pelo Professor ERICH GONZALEZ, na Cidade de Maracaibo, Estado Zulia, Venezuela, das LIÇÕES DO Dr RAFAEL BENSADÓN, EM APONTAMENTOS TOMADOS PELO ALUNO ERNESTO CARRANZA. 
(Tradução: Anderson de Jesus)

Nenhum comentário:

Postar um comentário