quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Lição 21 - O domínio da coluna c


                                                            
A imortal do zugzwang

Estimados amigos enxadristas leitores desta página. Muito obrigado por seus e-mails e por suas opiniões sobre os finais de G. M. Kasparian. Continuemos com as lições em prol de difundir o xadrez. Nosso ilustre libertador Simón Bolívar dizia: "A cultura é dos povos; mas não somente dos oligarcas poderosos". E o xadrez é cultura, e é do povo. 
LIÇÃO 21 - COMO APROVEITAR O DOMÍNIO DA COLUNA BISPO DAMA (c1 - c8) 
Em lições passadas (lição 19), estudamos algumas das vantagens de dominar a coluna bispo dama (c1-c8), que nos serviu para ver como se pode entrar com uma torre na sétima linha e varrer os peões do contrário.
Hoje, veremos outra partida onde toda a ação se desenvolve na coluna bispo dama e se decide nessa mesma linha. Aqui, o domínio da coluna, unicamente por sua ação, dá a vitória. É uma partida muito interessante, jogada em San Remo, no ano de 1930, entre os mestres Alekhine e Nimzowitsch. 
Eram dois jogadores de grande força, o que nos dá a idéia de que tanto o que ataca como o que se defende "VÊ MUITO". E, por isso mesmo, as ações no tabuleiro se equilibram e dão uma luta parelha. É diferente quando se encontram dois jogadores de forças desiguais; a partida perde interesse porque é de supor que o mais fraco não vê tudo o que o outro vê. 
Sendo dois mestres iguais, a luta é mais interessante. Os dois rivais de hoje são quase da mesma força; quer dizer que todo o que Alekhine viu, também o viu Nimzowitsch. Uma partida assim tem mais importância, e demonstra que se um deles se impõe é porque soube aproveitar melhor algum detalhe estratégico. 
Trata-se, como vocês sabem, do domínio da coluna bispo dama. Alekhine nos mostrará como se pode aproveitar esse domínio para obter o triunfo. A partida começou com uma abertura de peão de rei, que Nimzowitsch, fiel a seus princípios, replicou com uma DEFESA FRANCESA porque DIZ QUE COM ISSO SE MANTÉM A TENSÃO CENTRAL E O DINAMISMO DE SUAS PEÇAS. ISSO O DIZIA ELE; FALTA SABER SE É CERTO. Na lição anterior (lição 20), expressei minha opinião pessoal sobre as desvantagens desta defesa.

Defesa Francesa
BRANCAS: ALEKHINE
NEGRAS: NIMZOWITSCH 


1.e4 e6 2.d4 d5 
Já temos a posição clássica da Defesa Francesa, disputando as casas centrais.

3.Cc3 
Hoje em dia, as brancas possivelmente não teriam respondido com esta jogada, senão com Cd2, que nessa época foi popularizada por Paul Keres e que em minha opinião não é nem melhor nem pior do que a que fez Alekhine, senão que, como era pouco jogada, gozava da vantagem de estar menos analisada. Um de seus aspectos favoráveis é surpreender o contrário. Nimzowitsch segue com a jogada de Maroczy:

3...Bb4 
Essa posição do bispo que crava o cavalo sobre o rei tem suas vantagens e suas desvantagens. As vantagens as estamos vendo claramente: se ameaça tomar o peão de e4 branco. Porém as desvantagens são que sabemos que se os peões (do negro) estão colocados em casas brancas, o bispo que corre por casas negras é o "bom", por sua maior mobilidade, (e o bispo-dama é o "mau"). Porém, se a isso agregamos que em 90% dos casos que se faz Bb4 será quase necessário trocá-lo pelo cavalo, porque se retrocede haverá perdido um tempo, convenhamos que a troca não é muito aceitável, e que quem sairá ganhando com isso é o branco. 
Vocês vêem como, sem saber aberturas, pode-se jogar bem por meio de conceitos gerais. Quem os tenha, ainda que não conheça todas as variantes de uma abertura, dificilmente será superado nela porque, ainda que não responda exatamente a jogada aconselhada em tal ou qual defesa, tampouco o contrário pode saber todas as do livro. Estudar a dedo a teoria de aberturas (todo o mundo acredita que com isso vai aprender xadrez) não é tão importante como conhecer conceitos gerais. 
Um aficionado, estudando muito, poderá chegar a saber de memória duas o três aberturas com suas variantes inteiras, e, sem embargo, quem saiba nada mais que duas ou três aberturas não sabe nada de xadrez. Em troca, o que sabe os conceitos gerais poderá jogar bem em todas as aberturas. 
Bem, diante da jogada de Maroczy, 3.....Bb4, há várias razões pelas quais a contestação 4.exd5 "nem se pensa". Em primeiro lugar, se sabemos que o bispo negro da casa b4 vai ter que ser trocado pelo cavalo, ou seja, que as negras ficarão unicamente com o bispo dama, que corre por casas brancas, convém imobilizar os peões do centro para que esse bispo continue sendo "mau". Segundo, se na Defesa Francesa, como já dissemos, o bispo rei branco irá a d3 para pressionar o ponto h7 do roque negro, convém então, desde já, despejar essa diagonal. Não se deve fazer nunca 4.exd5, como vemos em muitas partidas, porque isso dá bom jogo ao negro.

4.e5 c5 
As negras vão minar a base desses peões centrais; é a jogada lógica. Porém, já vemos que esse peão em c5 interrompe a diagonal de seu bispo de b4, que está condenado a ser trocado pelo cavalo.

5.Bd2 
Descrava.

5...Ce7 
Pode-se ver, pois, que as negras necessitam desse bispo, que trocam, para controlar as casas negras. Com a jogada 5....Ce7, o negro escolhe essa via, já que o cavalo não pode sair pela casa f6 e prepara seu roque. As brancas aproveitam que tem seu cavalo descravado e, com a mesma idéia de levá-lo a d6, dão o xeque e, rompendo o roque contrário, fazem Cb5, que também serve para forçar o troca do bispo "bom" das negras pelo bispo "mau" das brancas. 
Busca um troca favorável e explora a má situação da casa d6, devido ao fato de que o peão de c7 foi avançado a c5 e já não poderá expulsar dali o cavalo.
Se 5...cxd4 6.Cb5 com o propósito de aproveitar a forte casa d6 sustentada pelo peão avançado. As negras devem responder 6...Bxd2+ e segue 7.Dxd2 atacando duas vezes o peão dobrado, o que quer dizer que no pior dos casos se as negras fazem 7...Cc6, defendendo-o, sempre se recupera e nada pode impedir que, mais adiante, o cavalo vá à d6, centralizando-se, o que seria muito forte.

6.Cb5 Bxd2+ 
E o negro pode dar graças por haver trocado seu bispo por outro bispo e não por um cavalo, o que seria pior.

7.Dxd2 0-0 
O negro conseguiu escapar com seu rei antes que lhe dessem o xeque. Sua posição não tinha, por agora, mais que um só defeito: a debilidade da casa d6, já que com nenhuma peça haveria conseguido evitar, em seguida, a entrada do cavalo em d6, dando xeque. Era então melhor rocar antes de tudo. 
Porém, depois do roque, as negras ficaram com outra debilidade: o cavalo em e7.

8.c3 
Alekhine sustenta seu centro e "tem tempo" para fazer Cd6. Vocês vêem que não usa essa casa. Faz isso por uma razão psicológica. QUANDO SE TEM UMA CASA A EXPLORAR, É MELHOR "AMEAÇAR" ENTRAR NELA QUE ENTRAR DIRETAMENTE. Por que? Porque o contrário não sabe se vamos ocupá-la ou não, se tem que defendê-la, se temos outro plano ou se há "algo mais" que não vê. Em troca, se a ocupamos diretamente, sente um alívio porque vê que tudo era como ele pensava.

8...b6 
Prepara a saída de seu bispo dama. É este um bispo mau porque caso vá a b7 pouco poderá fazer e, em a6, somente ameaça um cavalo que está defendido. Já dissemos que "não é negocio" trocar o bispo pelo cavalo.

9.f4 
Esta é a formação clássica de peões na Defesa Francesa. Porque o peão em e5 é relativamente fraco e se o deixamos sem mais apoio, pode cair. Sustentando-o com outro peão, torna-se mais forte e devemos ter em conta que depois se poderá jogar Cf3, reforçando-o, resulta uma cunha que trava o jogo das negras.

9...Ba6 
Única de onde este bispo ainda pode jogar.

10.Cf3 
Com isso, Nimzowitsch acredita que esse cavalo já não irá a d6, que era o que estava ameaçando. Se as brancas jogam 10.Cd6 vem 10...Bxf1 trocando seu bispo mau pelo bispo bom de Alekhine.

10...Dd7 
As negras começam a se preocupar com esse cavalo em b5 e o fustigam para que se decida, buscando a troca de bispos, que também deixará sem as brancas sem roque. Por isso, Alekhine acredita que é melhor manter ai esse cavalo.
11.a4 Cbc6 
Saiu o cavalo dama para a única casa que podia ir e o negro já tem todas suas peças desenvolvidas. Bem, nesta posição vamos nos deter um pouco. É interessante observar que probabilidades tem o negro sobre o jogo do branco. Se jogássemos com as negras, que possibilidades teríamos? Aonde poderíamos ir? Que plano se nos ocorre? 
Ao pouco que estudamos, nos damos conta de que as negras devem permanecer na expectativa porque não há nenhum plano sério para poder desenvolver. No máximo haverá jogadas isoladas. Quais? Cf5, com a intenção de tomar o peão de d4 branco, vemos que não é possível porque está defendido quatro vezes e somente o atacaríamos três vezes. Nem que fizéssemos Bxb5 para tirar essa defesa desse peão se poderia tomar, porque seriam três atacantes e três defensores. Se o negro fizesse f5 ficaria um peão fraco em e6, ainda que esse lance seja habitual na Defesa Francesa porque como o bispo de f1 irá a d3, atacando o ponto h7, há que cerrar essa diagonal. É difícil, pois, esboçar um plano para as negras. 
Em troca, façamos as mesmas perguntas para as brancas. Se pode ver claramente que podem estas levar um bom ataque no flanco de rei; que também no flanco dama podem levar outro ataque, abrindo a coluna bispo dama (coluna c ou c1-c8), e que podem preparar seu roque com Bd3, o qual, em união com um cavalo em g5, pode pressionar o roque contrário, etc. Enfim, o branco dispõe de vários planos a escolher e o negro de nenhum. Suas possibilidades são melhores. Sem embargo, não se vê como se pode ganhar. Nessa encruzilhada, Alekhine toma uma decisão. Pensa: "Há um peão em c5, defendido uma só vez e é o que mantém a tensão central; então há que atacá-lo duas vezes para ver o que faz. Que tome ou que avance". E joga

12.b4! 
Se toma, abre a coluna do bispo dama e se poderá utilizar o plano de atacar por ela. Se avança, fecha completamente o flanco dama e então se fará o ataque pelo flanco rei. Mas há outro problema para o negro: se avança o peão de c5 a c4 inutilizará seu único bispo, porque este nada poderá fazer por detrás de sua cadeia de peões fixos. Como não é possível defender uma vez mais esse peão, será melhor tomar. 
Porém, qual dos dois peões brancos? Se c5xb4 vem 13.c3xb4, com a coluna bispo dama aberta. E se c5xd4, as brancas podem seguir 13.c3xd4, que daria mais ou menos na mesma posição, ou escolher entre 13.Cb5xd4 ou Cf3xd4, que dão posições e continuações completamente distintas. Isso seria dar muitas possibilidades ao contrário.
12...cxb4 13.cxb4 
Já está aberta a coluna bispo dama. Qual dos dois lados a poderá explorar? O negro não pode por uma torre em c8 porque logo vem 14.Cd6 e se 14.....a6xc1 15.Cxc8 e, enquanto o bispo negro se retira 16.Cxe7+, ou se toma Dxe7 vem 16. Rxc1. O salto de cavalo a d6 continua sendo muito bom. Se o querem matar com a6xb5, continua 14.c1xb5 cravando o cavalo negro. Enfim, a coluna bispo dama é favorável ao branco, que pode dominá-la com sua torre e, depois de rocado, dobrar ali as duas.

13...Bb7 
Põe seu bispo em segurança para poder fazer a6, expulsando o cavalo de b5, para que, caso seja possível, levar logo sua torre à linha aberta. Porém esse bispo está condenado à morte. À longo prazo, deve ser trocado pelo cavalo.

14.Cd6 f5 
Quando não há muitos planos, não se pode escolher. O avanço deste peão é mau porque, como dissemos, deixa um ponto fraco em e6, porém fecha a diagonal na qual se instalará o bispo branco. Não pode 15.e5xf6 en pasant porque perde o cavalo de d6. Como Alekhine pensa atacar pelo flanco dama, trata de debilitar mais esse flanco:

15.a5 
A idéia deste lance é um pouco difícil de explicar. Com ele o branco trata de ganhar um tempo. Como? É evidente que o cavalo negro de e7 terá que sair e o Cc6 não terá mais do que o apoio da dama. Nesse momento as brancas fazem Cxb7, terá que retomar com a dama e logo essa dama, para apoiar o cavalo de c6, não tem mais casas do que b7 e d7 (porque pô-la em c7 é mau, já que a essa coluna virão as torres). 
O que quer dizer que se depois de DxCb7 o branco faz a6, tira-se da dama uma das casas que esta tem para sustentar o cavalo, o qual é um pouco complicado para os aficionados, porém ganha um tempo e espaço. 
Não teria sido bom 15.b5 pois seguiria 15....Ca5 travando os peões desse flanco e o único bispo das brancas fica mau porque não tem por onde jogar. Como o flanco rei já estaria cerrado e no flanco dama as negras não ficariam com peças fracas, não teria forma de ganhar. 
As brancas não podem perder sua única possibilidade que é dominar a coluna bispo dama.

15...Cc8 
Obriga a decidir-se. Esse cavalo em d6 incomoda Nimzowitsch. Que se vá ou que tome o bispo de uma vez! Não seria bom retroceder com o cavalo e convém trocá-lo pelo bispo porque se ganha um tempo. Com essa troca, também se lhe quitará um apoio ao cavalo negro de c6 e as brancas ficarão com seu bispo bom para levá-lo onde mais convenha.

16.Cxb7 Dxb7 17.a6 Df7 
Se cumpriram as previsões de Alekhine. Ganhou um tempo, enquanto a dama se foi. Observemos que o cavalo de c6 não tem nenhum programa: as únicas casas onde poderia ir estão dentro de seu próprio campo, e as três são ruins. Quer dizer que deve permanecer onde está, e se deve ficar ali, como lógica conseqüência, haverá que defendê-lo e será um ponto fraco a ser explorado, que obrigará a dama a vir mantê-lo. Chegou o momento em que o branco deve usar seu bispo para imobilizar o cavalo e seguir pressionando.

18.Bb5 C8e7 
Defende o outro cavalo;

19.0-0 
Comunica as torres.

19...h6 
Se produziu outra debilidade no setor das negras, porém impedem que seu rival faça 20.Cg5 atacando o peão de e6 e a dama. A posição se vai ficando aguda.

20.Tfc1 
Toma a coluna.

20...Tfc8 
O negro defende uma vez mais seu cavalo de c6 e disputa a coluna aberta.

21.Tc2 
Para dobrar torres.

21...De8 
Nimzowitsch se dá conta de que suas peças vão ficar travadas e trata de se opor com uma manobra bastante engenhosa. Porém não a conseguirá, porque sua posição já pode considerar-se perdida. Prevendo a dobrada de torres na coluna bispo dama, o negro busca defender três vezes seu cavalo, e como serão três os atacantes, não se poderá tomar. Porém já sabemos que não pode ser bom colocar a dama na mesma diagonal onde está um bispo. Não era bom 21...Cxb4 devido a 22.Txc8+ Txc8 23.Dxb4 ganhando uma peça.

22.Tac1 Tab8 
A idéia deste lance é a seguinte: é possível que mais adiante as brancas levem seu bispo a a4 (ou a qualquer outra casa) para jogar b5, expulsando o cavalo negro de c6. Então, enquanto saia o bispo de onde está, as negras fariam b5 e liberariam sua posição, assim que impedem o desalojamento do cavalo. Vemos que a luta segue sobre o mesmo ponto e sobre a mesma coluna. Claro que como o movimento do bispo branco é voluntário, Alekhine não o fará até que lhe convenha. 
Se as negras tivessem jogado: 22...Tc7 com a intenção de dobrar suas torres, (que será o plano que logo levará a cabo), não seria muito bom porque essa torre estaria "no ar" e seria outro ponto a explorar.

23.De3 
Apesar do domínio da coluna bispo dama, o branco mesmo não sabe como entrar porque seu rival defendeu tudo. É raro que Alekhine não tenha encontrado em seguida o plano ganhador porque é tão simples que quando se lhe vê executar uma vez já se aprende para toda a vida. E Alekhine o terá visto fazer muitas vezes. Tanto é assim que no próximo lance o porá em prática. Porém sua jogada 23.Ce3 demonstra que não o viu.

23...Tc7 
Para dobrar. E já se lhe fez a luz à Alekhine; viu como tem que atacar. QUANDO TEMOS DUAS TORRES DUPLICADAS EM UMA COLUNA ABERTA E NÃO HÁ MAIS PEÇAS PARA SEGUIR ATACANDO, PODEMOS LEVAR A DAMA A ESSA COLUNA, PORÉM NÃO COLOCÁ-LA DIANTE DAS TORRES, SENÃO QUE ATRÁS DELAS. 
Esse é o simples plano a executar. Trata-se de "subir" as duas torres um escalão mais e depois por a dama debaixo (em c1), apontando com as três e o bispo para o cavalo negro, que caso se vá deixará indefesa a torre de c2. Que Alekhine não viu antes este plano, o demonstra seu lance 23.De3 porque com a dama em d2, (onde antes estava), também o poderá realizar. 
Enquanto o branco prepara sua maquinaria, o negro, que se deu conta, prepara seu defesa.

24.Tc3! Dd7 25.T1c2 Rf8! 
Agora a "coisa" está apertando. Há que trazer todos os elementos à defesa! A batalha definitiva vai acontecer sobre o cavalo de c6 ou sobre a torre de c7 e Nimzowitsch, que o viu, traz a última peça que pode levar (seu rei) a colaborar na defesa. Parece que não chegará a tempo, porém já veremos como calculou os movimentos com notável precisão.

26.Dc1 
A dama já está em sua posição ideal para o assalto: atrás de suas duas torres. Sobre o famoso cavalo, há quatro atacantes e tão só três defensores. É necessário apoiá-lo uma vez mais, pelo menos.

26...Tbc8 
Agora há quatro contra quatro. Não se pode tomar o cavalo. Então, como se faz para ganhar? Caso se pudesse levar o outro cavalo branco, o problema estaria resolvido, mas por onde pode entrar essa peça? Por pouco que estudemos, compreendemos que o cavalo branco não pode ir atacar o cavalo negro de c6. Bem, e se não pode ir, para que diabos Alekhine perdeu tanto tempo em mover as torres, a dama e planejar este ataque? 
Há outra razão: o branco pode esperar e fazer o plano que quer. De maneira que vai a empregar outro recurso. Ao sair a torre negra de b8, Nimzowitsch já não pode jogar b5 quando o bispo saia de b5. Isso significa que já é possível tirar esse bispo para logo jogar b5, ameaçando tomar o famoso cavalo. E se este se vai, cai a torre de c7, porque teria três atacantes e só dois defensores. Porém o notável é que Nimzowitsch também calculou tudo isto e parece que salvará tudo. Vejamos:

27.Ba4 
Para fazer b5.

27...b5! 
Demora o temporal. Entrega um peão, é certo, porém enquanto o bispo branco toma, volte a retirar-se e, se avança o peão a b5, o rei negro ganha dois tempos, que são os dois passos que lhe faltam para chegar a socorrer sua torre de c7. 
É formidável a exatidão do cálculo de Nimzowitsch desde que começou a mover seu rei. Significa que havia previsto tudo o que ocorreu. Claro que há algo que não entrou em seus cálculos e por isso perdeu. Logo veremos.

28.Bxb5 
Ganha um peão,

28...Re8 29.Ba4 Rd8 
E chegou justo a tempo para defender a torre de c7! Já pode vir 30.b5, que retira seu cavalo de c6 e tudo está defendido. Fazer agora 30.b5 seria um equívoco; já não há interesse nisso porque nada se ganharia. E então, como Alekhine pode ganhar?
Observemos que o negro tem todas suas peças cravadas. Enquanto mova uma, perde algo. Vejamos uma por uma: se tira o famoso cavalo de c6, vem Bxd7. Se move o outro cavalo, cai o cavalo famoso. Se tira alguma das duas torres, ou a dama ou o rei, vem b5 e perde-se uma peça. Isto é o que se chama uma POSIÇÃO "ZUGZWANG", JOGAR PARA PERDER, TUDO CRAVADO. Quer dizer, o único que podem fazer as negras é mover os dois miseráveis peõezinhos do flanco rei (h6 e g7). E depois que terminem esses tempos, que fazer? Em troca, o branco pode perder todos os tempos que queira. Seu rei pode "passear" em seu campo, o cavalo tem vários saltos perdendo tempos, etc. Porém o que corresponde, por agora, é tirar todas as chances de movimento do contrário, e para isso faz:

30.h4 
E já temos a posição clássica de zugzwang, que foi o que Nimzowitsch não previu, e que dará a vitória a Alekhine por seu domínio da coluna bispo dama. As negras poderiam jogar g6, perdendo outro tempo, porém e depois?...as brancas responderiam Rh2 e ficaria também cerrada a posição no flanco rei. A qualquer coisa, não se pode mover nada. Por não saber o que fazer.

30...De8 
Deixa indefesa a torre de c7.
31.b5 
E as negras abandonam 1-0 
É evidente que a posição estava perdida. A partida se decidiu sobre a linha bispo dama c1-c8. O aproveitamento de seu domínio obrigou o rival a gastar todas as peças na defesa e, não obstante, perdeu. Creio que como demonstração de decidir a luta na coluna bispo dama não pode haver melhor partida que esta. 
Bem, prezados alunos, leitores desta excelente pagina de xadrez. Finalizamos esta lição. Sigamos adiante, que ninguém nos deterá na difusão do xadrez. Não darei um passo atrás; só a morte me deterá. E se me detiver, outro virá, porque devo isso à Revolução Bolivariana de meu país VENEZUELA, que quer um processo de mudança pelo bem de meus compatriotas. Até a próxima lição.
Prof. Erich González 
E-mail: edgonzal@luz.ve 
TRANSCRIÇÃO Pelo Professor ERICH GONZALEZ, na Cidade de Maracaibo, Estado Zulia, Venezuela, das LIÇÕES DO Dr RAFAEL BENSADÓN, EM APONTAMENTOS TOMADOS PELO ALUNO ERNESTO CARRANZA. 
(Tradução: Anderson de Jesus)
Os diagramas desta página foram feitos com o programa Chesstool 
de Guillermo Gajate.

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