quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Lição 2 - A iniciativa

                                                                
TRANSCRIÇÃO pelo Professor ERICH GONZALEZ, na cidade de Maracaibo, Estado Zulia, Venezuela. LIÇÕES DO Dr RAFAEL BENSADON EM APONTAMENTOS TOMADOS PELO ALUNO ERNESTO CARRANZA.
LIÇÃO 2 - A INICIATIVA
Estimados amigos leitores desta pagina. Faço-lhes a entrega da segunda lição. 
Pode-se entender por "iniciativa" a forma de conduzir as peças de maneira que signifiquem um ataque constante sobre o rival, constituindo ameaças, das quais se deve defender imediatamente, buscando sempre "ganhar tempos", ainda a custa de perder peões e peças para atingir o objetivo perseguido. 
QUANDO UM JOGADOR CONSEGUE LEVAR UMA INICIATIVA CONTÍNUA, CHEGA UM MOMENTO QUE SE ESGOTAM AS JOGADAS BOAS DO OUTRO. Baseadas neste conceito, existem muitas partidas (mesmo entre mestres) em que um dos jogadores se apodera da iniciativa desde a abertura e não a cede, mesmo que deva perder peças, fazer sacrifícios e buscar difíceis combinações; conseguindo obter a vitória se for capaz de manter um ataque contínuo, perdendo lamentavelmente se o outro consegue encontrar replicas justas que desbaratem seus planos. Porque todos os jogadores conhecem o valor da iniciativa , logicamente, desde a saída, tratam de se opor a do rival. 
Os jogadores sabem perfeitamente que: AS VEZES, A DESVANTAGEM MATERIAL ESTÁ AMPLAMENTE COMPENSADA COM A VANTAGEM DE "TEMPO" E ESPAÇO. 
A partida que vamos analisar foi jogada em Lá Habana, Cuba, em 1892, pelo campeonato do mundo, entre Steinitz e Tchigorin. E não é, por certo, "uma partida modelo", senão um duelo onde nenhum dos dois quer ceder a iniciativa e, para isso, realizam jogadas incompreensíveis para os profanos. Para compreendê-la é necessário saber que Tchigorin vinha de varias derrotas seguidas para Steinitz e transbordava de fúria dissimulada. Seu rival tampouco queria ceder porque estava em disputa o campeonato do mundo. 
Em outras palavras: ambos estavam dispostos a "tirarse las piezas por la cabeza" Foi jogada uma abertura de peão do rei, que já sabemos, significa "luta a morte" onde a combinação ha de primar sobre o jogo posicional. Em seguida, derivou a um Gambito Danes aceito e já veremos como ambos tratam de tomar a iniciativa.

BRANCAS: Tchigorin NEGRAS: Steinitz

1.e4 e5 2.Cf3 Cc6 3.d4 
Muito ativa.

3...exd4 
Tomando a iniciativa.

4.Cxd4 Dh4 
As brancas jogam o Gambito Danes, que ataca duas vezes o peão do rei negro, com a evidente intenção de tomar resolutamente a iniciativa, porém, ante a resposta do negro - aceitando o gambito, também para se apoderar da iniciativa - decidiu jogar 4. Cxd4, com o que cede este direito a seu rival, que imediatamente jogou 4...Dh4, atacando o peão do rei para obrigar as brancas a defendê-lo. 
Vamos esclarecer aqui que, em nossa opinião A saída PREMATURA DA DAMA NA ABERTURA NÃO É MUITO RECOMENDÁVEL. Porém, já dissemos que os contendores jogavam com "raiva" e não se preocupavam muito com debilidades. A prova esta na seguinte jogada do branco. A jogada "chata" que fariam a maioria dos aficionados seria 5.Cc3, defendendo o peão do rei. Porém isso dá lugar a que o negro continue com a iniciativa e já dissemos que aqui não se trata de "andar com elegância".

5.Cb5! 
Esta é a jogada mais ativa de que dispõe as brancas. Se bem que perdem um peão (com xeque), aproveitam esta circunstância para desenvolver o bispo dama e, logo, o negro terá que se defender da ameaça de "duplo" ao rei e a torre, do contrario o cavalo tomaria o peão de c7, com o que reconquistaria a iniciativa. É, pois, uma luta pela iniciativa, na qual se trata de acumular tempos a custa de material.

5...Dxe4+ 6.Be3 Rd8 
As negras acreditam que o melhor para sair do xeque e mover o rei e ao mesmo tempo apoiar o peão atacado. Resignam-se a jogar sem roque para evitar perder tempos. [6...Bd6 não era bom 7.Dxd6 cxd6 8.Cxd6+ recuperando a dama e ganhando um bispo e um peão; 6...De5 Tampouco servia 6...De5 porque, como veremos mais adiante, a dama está mal colocada nessa casa.

7.C1-c3 De5 8.Cd5! 
Em que se fundamenta o branco para tomar tão resolutamente a iniciativa a custa de "material"? Fundamenta-se no fato de que pode chegar a reconquistar o material com acréscimo se consegue mantê-la.

8...Cf6 9.Cbxc7 Bd6! 
Entregando a torre, porém imobilizando esse cavalo (se esta toma a torre) porque não poderá sair mais, e ameaçando 9...Cxd5 com o que compensaria a desvantagem, levando a iniciativa e até com ganho de material porque se poderia dizer que teriam trocado sua torre imóvel por "dois" cavalos ativos; além da ameaça que se faz sobre o bispo de 'e3'. Se o cavalo branco não toma a torre, o negro jogará tranqüilamente Bxc7 com ganho limpo de material.

10.f4! De4 11.Bd3 
Ganhando "tempo". A dama negra não tem retirada na coluna do rei nem nas diagonais que são dominadas pelos bispos. Restam somente duas jogadas: Ir a casa 'a4' ou tomar o peão de 'g2'. Jogar 11...Da4 seria inócuo. Opta por..

11...Dxg2 12.Tg1 Dxh2 
Steinitz jogou aqui com critério "sanchesco". Preferiu pensar: "se morrer será com a barriga cheia", porque do contrário haveria previsto a seguinte continuação, onde se perde a dama, porém acaba compensada amplamente: [12...Cxd5 13.Txg2 se (13.Cxd5 segue 13...Dxd5) 13...Cxe3 14.Df3 Cxg2+ 15.Dxg2 Bxc7 e se haveria trocado a dama e um cavalo, por dois cavalos, um bispo e uma torre, o que, como dissemos, é compensação mais que suficiente. 
É claro que o branco seguiria com a iniciativa e o negro tem colocadas defeituosamente a maioria de suas peças, porém isto seria sempre preferível aos apertos que vem depois de 12. ..D x h2.

13.Df3 Cxd5
O branco ameaçava 14.Th1 ganhando a dama, que não tem retirada. Agora se se joga 17. Th1 o negro contestaria Dxh1 e logo Cxd5, trocando a dama por dois cavalos e torre.

14.Cxd5 Dh6 15.0-0-0 f5
O negro entrega um peão para evitar (momentaneamente) o avanço do peão branco de 'f' , o que seria fatal, pois a dama negra não teria jogada satisfatória (se Dh4 seguiria Bg5 ganhando a dama). Dito movimento tem o objetivo de ganhar tempos e preparar a "escapada" da dama. AQUI SE APRECIA O ÚTIL E NECESSÁRIO QUE E MANTER O "TEMPO", O MATERIAL, ESPAÇO E A INICIATIVA.

16.Bxf5 g6 17.Cf6! 
O branco continua disposto a não ceder a iniciativa. [se 17...gxf5 18.Txd6 etc.]

17...Df8 
Defende seu bispo e ameaça o cavalo e o bispo do contrario.

18.Bxd7! Dxf6 
 Não é possível 18...Bxd7 porque segue 19.Cxd7 Rxd7 20.Bc5 ganhando. A idéia do branco é abrir a linha da dama para sua torre.

19.Bxc6 Rc7 
Não era possível bxc6 devido a Dxc6 ameaçando a torre e tomando e o bispo da casa 'd6'. Aqui o negro joga tranqüilo e consegue uma posição aproximadamente igual.
Transcorreram-se somente 19 lances, sumamente violentos; presenciamos uma luta de morte pela iniciativa e se poderia dizer que chegamos ao '"final" da abertura. 
Seria este o momento de fazer um balanço. Vemos que cada lado conserva quatro peões, dois bispos, duas torres e a dama. Ou seja, "materialmente" estão iguais. Onde está, pois, a vantagem do branco, que não cedeu a iniciativa e que ainda a conserva? 
Resposta: na maior mobilidade de suas peças e, sobretudo, na colocação do rei. Enquanto o rei negro esta numa situação precária, o rei branco esta a salvo de possíveis ataques. Trata-se, pois, de explorar essa diferença. 
Dissemos que a abertura chegou ao "final" e logo veremos a confirmação disso, porque as jogadas que seguem são mais "posicionais" (para voltar a engrenar logo a iniciativa).

20.Be4 Tf8 21.Tgf1 Bd7 22.Td3 
Não era bom 22.Bxb7!? devido a 22...Tab8! atuando em uma coluna aberta e pressionando o peão de 'b2', que já está ameaçado pela dama, o que constitui um sério perigo.

22...Bc6 23.Bxc6 bxc6 24.Bd2! 
A que se propõe este bispo? Dominar a grande diagonal de casas negras que vai de 'a1' a 'h8' e, se for possível, colocar-se em 'e5', apoiando seu peão isolado pela frente; mas, para isso, "disfarça" seu propósito com outra jogada que não chegará a realizar: ameaça dar xeque ao rei desde 'a5' a fim de levá-lo às colunas da ala da dama, onde estaria muito exposto ao "fogo" das torres e da dama. 
O negro prefere se defender deste xeque e procura levar seu bispo a casa 'b6', tratando de trocá-lo ali, com o que levaria seu peão de 'a7' a 'b6' mais ao centro, onde ajudaria na proteção de seu rei.

24...Bc5
Talvez fosse melhor 24...a5.

25.Bc3 Df7 26.Be5+ Tb7 27.Tfd1
Em vez de dobrar suas torres, o branco poderia ter jogado 27.Tb3+ porém isso favoreceria ao rival, que cobriria com 27...Bb6.

27...Dc4 
Não devemos esquecer que: OS XEQUES DEVEM SER RESERVADOS. No momento oportuno se pode "salvar" uma peça ameaçada com um xeque; não façamos como os principiantes que "XEQUE QUE VÊEM, XEQUE QUE DÃO". Não serve 27...Dxa2 porque se expõe a um ataque perigoso do branco. 28.Tb3+ A) 28...Ra6 29.Dxc6+ Bb6 (29...Ra5 30.Db5#) 30.Ta3+ ganhando a dama.; B) 28...Rc8 29.Dxc6#

28.Tc3 Db5 29.Tb3 Bb4 30.Td7+ Rb6
Se 30...Rc8 31.Txb4 Dxb4 32.Dxc6#; Ou 30...Ra6 31.Txb4 Dxb4 32.Dxc6+ Db6 33.Da4+ Da5 34.Td6+ ganhando a Dama.

31.Bc7+ Ra6 
31...Rb7 não serve devido a 32.Txb4 Dxb4 33.Ba5+ ganhando a Dama.

32.Txb4!
E ganham porque se

32...Dxb4 33.Dxc6+

RESULTADO: 
Vimos a enorme importância que tem a INICIATIVA; daí se depreende que não devemos cedê-la nunca e, se não a temos, devemos tomá-la. 
Quando nos atacam um peão, em vez da defesa "chata", busquemos a jogada que ataque uma peça contraria; se nos atacam uma peça menor, ataquemos o rei ou a dama adversária; se nos atacam a dama, busquemos atacar o rei. E recordemos este axioma: "QUANDO SE PODE MANTER A INICIATIVA, GANHA-SE" Ate a próxima lição, amigos leitores. 
Agradeço-lhes qualquer correção e sugestão. 
Professor. Erich Gonzaleze - mail: edgonzal@luz.ve 
(Tradução: Elias Muniz)

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