domingo, 6 de fevereiro de 2011

Lição - 12

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A centralização 
 Amigos leitores desta página, continuemos com as lições, cujo propósito é ajudar-lhes a conhecer uma série de técnicas aplicáveis neste maravilhoso jogo. 
LIÇÃO 12: A CENTRALIZAÇÃO DAS PEÇAS Parte A 
A lição de hoje versará sobre a centralização das peças. É um tema que, em sua época, Alekhine pôs em moda. Pelo menos foi ele quem primeiro falou publicamente disso, ainda que os bons jogadores já o conheciam. SE CENTRALIZAR UMA PEÇA CONSISTISSE SOMENTE EM COLOCÁ-LA EM UM LUGAR CENTRAL, SERIA ALGO MUITO FÁCIL, PORÉM NÃO É ASSIM. Centralizar uma peça não quer dizer colocá-la no centro e nada mais. "CENTRALIZAR" EM TERMOS ENXADRÍSTICOS, É COLOCÁ-LA NO CENTRO, PORÉM DE FORMA QUE NÃO POSSA SER EXPULSA DALI PELAS PEçAS ADVERSÁRIAS. São pois, dois conceitos completamente distintos.

1.e4 d5 2.exd5 Dxd5
Diagrama 1

Poderia dizer-se que a dama já está "centralizada" porque está em uma casa central, porém já sabemos que a saída prematura da dama nas aberturas é ruim. Por que? Porque pode ser facilmente expulsa dali pelas peças contrárias. Isso seria jogar mal. JOGAR BEM SERIA LEVAR A DAMA AO CENTRO NO MOMENTO CERTO, COLOCANDO-A EM UMA POSIÇÃO DE ONDE NÃO PUDESSE SER EXPULSA. Bem, dirão vocês, e a dama em uma situação central, que importância tem? É o que veremos nesta lição. Uma dama nessas condições pode mover-se em todas as direções. Quer dizer, TEM OITO CASAS A SUA DISPOSIÇÃO, O QUE LHE PERMITE IR IMEDIATAMENTE A TODOS OS LUGARES DO TABULEIRO. Uma dama "centralizada" é uma dama móvel, que em 1, 2 ou 3 movimentos pode dar a volta no tabuleiro. Repetimos, pois, que uma dama no centro, que não possa ser expulsa dali, é muito forte. Parece algo sem importância, porém isso dá lugar a combinações decisivas, porque desde ali tem um controle muito grande, tanto no flanco rei como no flanco dama. A MELHOR COLOCAÇÃO PARA "CENTRALIZAR" A DAMA SÃO AS CASAS e4 E d4.

LIÇÃO 12: A CENTRALIZAÇÃO DAS PEÇAS Parte B 
A partida que lhes trago foi jogada no Torneio das Nações do ano de 1927, entre o desaparecido mestre Reti e o francês Muffang. Como vocês sabem, Reti foi o criador da escola hiper-moderna e jogou esta partida de acordo com suas idéias estratégicas. 
Já vimos que na maioria das aberturas se faz 1.e4 ou 1.d4 para dominar em seguida o centro, colocando ali os peões. A escola hiper-moderna procede de outra maneira. Ao criar seu sistema, Reti pensou assim "que necessidade há de colocar uma peça no centro para dominá-lo se podemos dominar o centro desde longe?". E nos anos transcorridos até agora, desde que Reti enunciou sua teoria, parece que os fatos o tem confirmado. O sistema Reti consiste em dominar o centro em três etapas: Primeira: dominá-lo desde longe. Segunda: ocupá-lo, pondo ali os peões; e Terceira: ir desalojando os peões para ocupar com as peças as casas que estes deixam. E, de todas as peças, A DAMA "CENTRALIZADA" É A QUE MAIS INTERESSA. E SE NÃO FOR POSSÍVEL, UM CAVALO. 

BRANCAS: RETI 
NEGRAS: MUFFANG

1.c4 Cf6 2.Cf3 b6

De acordo com suas teorias, Reti trata de dominar as casas centrais, sem ocupá-las diretamente. Desta teoria de dominar de longe as casas centrais nasce a idéia dos fianchetos, e as negras começam a preparar um fiancheto de dama que, como vocês sabem, tem seus inconvenientes; o principal dos quais consiste em que o bispo de b2 ou de b7 estará indefeso e que, se o contrário opõe um fiancheto de rei, o bispo em g7 ou g2 será defendido por seu próprio rei quando se faca o roque. ISSO DÁ UMA GRANDE VANTAGEM PARA QUEM FAZ O FIANCHETO DE REI. E Reti imediatamente o faz:

3.g3 Bb7 4.Bg2 e6 5.O-O Be7

A melhor. O bispo rei das negras não tem outras casas boas. Não pode ir a c5 por d4, nem a d6 porque um próximo avanço de peões pode atacar simultaneamente a este bispo e ao cavalo de f6. Vemos que as brancas tratam de dominar o centro desde longe e já vamos entrando na segunda etapa, consistente em ocupá-lo com os peões. Porém isto deve ser preparado, e as jogadas que seguem têm esse objetivo.

6.d3

Pessoalmente, creio que nesta posição 6. d4 é mais agressivo e, portanto, o que deve ser feito, em vez do que Reti jogou. Porem 6.d4 é algo mais conhecido e analisado, motivo pelo qual o adversário sabe a continuação. Outra era a idéia de Reti (como o veremos) e por isso não é criticável esse movimento.

6...O-O 7.e4

Aqui vemos porque antes as brancas fizeram d3. Também aqui devo dizer que não sou partidário de 7.e4, que não me satisfaz. Porem, a idéia de Reti ao fazer isto é poder tirar seu cavalo de f3 sem trocar os bispos dos fianchetos; coisa que não podia ser evitada se o peão rei estivesse em sua casa inicial ou em e3.

7...d6

Para jogar logo Cbd7.

8.Cc3 Cbd7 9.Ce1

Como dissemos, isto não poderia ser feito sem trocar os bispos se não houvesse jogado e4. E já estamos na segunda etapa da partida. O branco trata de dominar as casas centrais ocupando-as com peões, "centralizando" os peões, porém também buscando ter um centro móvel, pois seu objetivo não é deixar seus peões ali, mas avançá-lo para por suas peças nas casas deixadas pelos peões. Se o centro fosse fixo, a posição seria "fechada" e portanto os bispos jogariam pouco e não se poderia avançar os peões. Isto não o desejam as brancas. Por agora, está se criando uma ameaça acessória ao plano geral: avançar o peão rei, pois se a 10.e5 se seguisse 10....BxB 11.exf6 e um dos dois bispos negros cai. As negras optam por se retirar a tempo.

9...Ce8 10.d4

Estamos na segunda etapa: a ocupação do centro com peões. Poderia se considerar: porám as brancas perderam um tempo por haver movido seu peão dama duas vezes em vez de fazer diretamente d4. Que necessidade havia de fazer d3? Não, senhores, havia uma necessidade posicional. Sem d3 não teria sido possível e4 e retirar o cavalo a e1, que formava parte do plano.

10...g6?

Isto não pode ser bom, pois sabemos que: PEÂO QUE AVANÇA DEIXA ATRAS DE SI UMA OU DUAS DEBILIDADES. Neste caso, a casa h6; que rapidamente aproveitara o rival. Ainda supondo-a necessária, g6 seria ruim. E se não há nenhuma necessidade peremptória, não devia ser feita. A idéia do negro era fazer depois f5, tratando de romper o centro de peões brancos.

11.Bh6 Cg7

Forçado.

12.Cd3

Agora Reti trata de ir centralizando as peças. Como dissemos, isto não quer dizer somente colocá-las no centro, senão que fazê-lo de modo que não possam ser desalojadas.

12...e5

Aqui se impõe um conselho de Philidor (que foi seguido por Reti). Dizia este antigo mestre: quando temos peões centrais emparelhados (d4 e c5) e outro peão lateral contrário o ataca, nunca devemos trocar (é muito raro que isso seja necessário, acrescentaremos), senão que devemos avançar o peão agredido. Parecerá que agora fica um centro de peões "fixo", porém o branco tratará de fazer com que isso não ocorra.

13.d5! Cc5 14.Cxc5

O cavalo branco de d3 ainda não estava "centralizado" e, por isso, o branco troca pelo cavalo negro que o ameaçava. Ademais, dobra-se um peão negro. Se 14. dxc5 ficaria um peão excêntrico, que é mau, e com 15.f4 rompe-se o centro, que será dominado completamente pelo branco. E se 14. bxc5, o bispo dama negro não tem boas casas para jogar, ficará um peão dobrado, cuja debilidade se fará sentir porque não se pode formá-lo "em quadro", e, apesar de que o bispo branco de g2 não jogue, isso está compensado porque o outro bispo contrário tampouco joga.

14...bxc5 15.f4

Continua o plano.

15...exf4

O negro se viu forçado a tomar o peão de f4 porque do contrário seu adversário teria jogado fxe5 e seria pior. Vemos aqui como Reti não permite que se faça um centro de peões "fixo" senão que, de acordo com seus planos, trata de fazê-lo "móvel". Bem: com que peça se deve retomar esse peão? Pode-se fazer com três pecas: com a torre, com bispo ou com o peão. Com qual e melhor? Se 16.Txf4 segue Bg5 e força a troca dos bispos, o que não seria muito bom, dado que, devido à colocação do bispo de h6, o bispo das brancas é melhor do que o das negras. Ademais, este é o bispo "bom" das brancas. Se 16. Bxf4 pode seguir o mesmo Bg5 ou Ch5, que não a agradável. Então, o melhor é tomar com peão, para fazer o centro "móvel". Observemos também que se desaparecesse o peão dama negro toda sua defesa se desmoronaria e os peões dobrados na coluna bispo dama ficariam muito fracos. Ao tomar 16.gxf4 está se ameaçando 17.e5....

16.gxf4 Bf6

Para evitar o avanço do peão rei, as negras tratam de dominar a casa e5. Porém, com Bf6 conseguem isso? Em seguida, veremos porque Reti jogou 17.e5 e parece que perde um peão, porém não é assim, pelo que ocorre na partida:

17.e5 dxe5 18.Ce4!

O negro trata então de conservar o peão e joga:

18...exf4

(Se as negras jogassem 18...Be7 as brancas jogariam 19.fxe5 e a partida está ganha porque o centro de peões brancos é muito forte.)

19.Cxc5

Caiu um peão dobrado e o outro (de f4) está por um fio. Porém não é isto o mais importante: o bispo negro de b7 não tem muitas casas boas para onde ir e caso se defendesse: 19....Tb8 se faz 20.Cxb7 Txb7 ficando esta torre sob o fogo do bispo de g2 e mal colocada. As brancas poderiam jogar 21.d6 contra o qual o melhor é c6, dando jogo a dama negra; pois contra 22.Bxc6 existe a replica Db6+ ganhado este bispo.

19...Bc8 20.Bxf4

(Se agora 20.d6 atacando a torre 20...c6 21.Bxc6 Tb8 pressionando o peão de b2, e se 22.d7 Ba6 e recupera tudo, já que a 23.Cxa6 viria 23...Db6+ etc. O branco tem tempo e se reserva essas ameaças.)

20...Cf5!

Diagrama 2

É um bom lance por que domina vários pontos centrais e se aproxima do centro. já veremos a importância deste cavalo nessa casa.

21.Ce4

Por um tempo, centraliza o cavalo, porém isto não é definitivo. Ademais, o que interessa não é centralizar o cavalo, mas a dama, que é mais importante. Estamos em plena terceira etapa: OCUPAÇÃO DO CENTRO, COLOCANDO PEÇAS NAS CASAS QUE VÃO SENDO DEIXADAS PELOS PEÕES.

21...Bd4+ 22.Rh1 Tb8

Ameaça duas vezes o indefeso peão de b2, que parece condenado a morrer. Porém as brancas tem um recurso. Justamente o que vimos na lição anterior: as peças sobre-carregadas (No xadrez, salta-se rapidamente de um tema a outro).Observemos que o cavalo negro de f5 tem, entre outras manobras, que defender o bispo de d4 e as casas h6 e g7. Então, Reti se aproveita disso para jogar:

23.Bh6 Bg7

(Se 23...Cxh6 24.Dxd4 e tudo está defendido.) (Se o negro move sua torre, por exemplo: 23...Te8 24.Txf5 gxf5 25.Dxd4 trocando uma torre por bispo e cavalo, e dobrando um peão.) (Se 23...Bxb2 24.Tb1 vindo uma combinação mais longa, porém ganhadora.)

24.Bxg7 Rxg7

Observemos que o negro conserva o cavalo de f5, que ainda não pode sair dali, e que estava ameaçando um "duplo" na dama e na torre em e3. Claro que agora já não se poderia fazer isso devido ao xeque de dama em d4, defendendo o peão de b2 e sendo pouco menos que "indesalojável" dali. (Se as negras em vez de tomar Rxg7 tivessem feito 24...Ce3 seguiria 25.Dd4 perdendo a qualidade, porém preparando a "máquina" porque se 25...Cxf1 26.Bh8 f6 27.Cxf6+ Txf6 28.Bxf6 Df8 29.Txf1 recuperando a qualidade com acréscimos. De tudo isso nasce a idéia de que quando desaparecer o cavalo negro de f5 (tão bem colocado) a dama branca se "centraliza" e já não poderá ser expulsa dali. Essa é a idéia que Reti colocará em prática mais adiante.)

25.Dd2

Defende o duplo e o peão de b2.

25...De7

Respiram.

26.Tae1

Bom.

26...Db4

Esta dama escapa da pressão da torre e ameaça duas vezes o peão de b2, ao mesmo tempo que busca a troca de damas.

27.Dd3

Parece que com 27. Dd3 as brancas entregam o peão de b2, porém não é assim porque em caso de 27.....Dxb2, 28.Tb1 ganhando a torre negra. Vemos que a dama branca desde d3 da apoio a sua torre em b1, pelo que do contrario o negro poderia optar por trocar sua dama pelas duas torres. (não é bom fazer 27.Dxb4 Txb4 28.b3 porque, com isso, colocaríamos todos os peões brancos em casas brancas e, como o único bispo que o branco conserva corre por essas casas, torna-se "mau". Por isso, e porque já dissemos que as brancas estão jogando com a idéia de "centralizar" a dama, não lhes convém fazer a troca. Porém, caso se troque, como se defende tudo? A jogada é um pouco indireta e difícil de ver.)

27...Bd7

Comunica as torres e, agora sim, ameaça Dxb2.

28.b3

não há mais perigo neste flanco.

28...Tbe8 29.Te2 Te5!

O negro trata de dobrar suas torres na coluna do rei. E para isso começa por colocar uma delas em e5, que, havendo desaparecido o bispo contrário que corria por diagonais negras, é uma casa débil para o branco. Vemos também a excelente colocação do cavalo negro de f5, que impede o branco de centralizar a dama e, por isso, Reti se decide a eliminá-lo.

30.Bh3 Tfe8 31.Bxf5

HÁ QUE PENSAR MUITO BEM ANTES DE TROCAR UM BISPO POR UM CAVALO. Há que considerar muito bem o que se faz. Reti viu a continuação: a "centralização" da dama, que tão só o cavalo impedia, e por isso o fez.

31...Bxf5 32.Dd4!

Diagrama 3

E já temos a dama "centralizada" que é o tema desta lição. Em seguida compreendemos sua importância. Por enquanto, ameaça-se o peão de a7 e se "crava" a torre de e5.

32...f6

Para "descravar-se" as negras acreditaram que isto era o melhor. Porém é ruim, porque dá lugar a uma combinação que imediatamente veremos. O melhor era escapar com o rei, talvez a f8, porém isso não seria suficiente porque, enquanto se movesse a torre de e5, a dama branca entraria em h8 com xeque, ganhando fácil. Vejamos então a combinação final, baseada nesta jogada defeituosa, na torre cravada e na enorme mobilidade da dama "centralizada".

33.Cxf6! Rxf6

Era forçado tomar o cavalo porque a torre de e8 estava ameaçada, e logo até se poderia ganhar a torre de e5. Este sacrifício se baseia em que o rei negro fica na diagonal onde está a dama branca, cravando a torre.

34.Tfe1

Ameaça ganhar uma torre.

34...c5

As negras buscam outra maneira. (Se 34...Dd6 35.c5 Dxd5+ 36.Dxd5 Txd5 37.Txe8 ficando com qualidade a mais.) (Tampouco é bom 34...De7 por 35.Txe5 ganhando a dama. 35...Dxe5 36.Txe5 Txe5 37.c5 etc.)

35.Dh4+

(As brancas podiam tomar o peão "en pasan". 35.dxc6 porém isso permitiria 35...Db8 defendendo a torre cravada. Agora: VEREMOS A IMPORTÂNCIA DA DAMA "CENTRALIZADA" QUE PODE IR A QUALQUER PARTE EM POUCOS MOVIMENTOS.)

35...g5

Única boa, porque a qualquer outro movimento de rei, perde-se uma torre.

36.Dh6+ Bg6

Cobre. Também é a única boa pelas mesmas razões que a anterior.

37.Txe5 Txe5

Forçado.

38.Df8+

E as negras abandonam.

Porém, se continuamos a partida veremos por que abandonam. Se as negras jogassem:

38...Bf7

única.

39.Dd6+

e ganham a torre com xeque. A partida está decidida. 
CONCLUSÃO: A dama deu "a volta" no tabuleiro em três golpes. Essa é a grande vantagem da dama "centralizada": sua grande mobilidade. Creio que não é necessário acrescentar nada mais. Possivelmente nas próximas lições continuaremos vendo a utilidade de outras peças centralizadas. Porém não quero aborrecer-lhes. 
Bem, prezados leitores, finalizamos esta lição e, como sempre, minha eterna gratidão pelo interesse demonstrado pelas mesmas. Até breve. 
TRANSCRIÇÃO feita pelo Professor ERICH GONZALEZ, da Cidade de Maracaibo, estado Zulia. Venezuela LIÇÕES DO Dr. RAFAEL BESANDON, BASEADOS EM APONTAMENTOS TOMADOS PELO ALUNO ERNESTO CARRANZA.
Prof.: Erich Gonzalez e - mail: edgonzal@luz.ve
Os diagramas desta página foram feitos com o programa Chesstool 
de Guillermo Gajate.

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