Lição 3 - A debilidade da casa "f7".

                                                                

TRANSCRIÇÃO pelo Professor ERICH GONZALEZ, na cidade de Maracaibo, Estado Zulia, Venezuela. LIÇÕES DO Dr RAFAEL BENSADON EM APONTAMENTOS TOMADOS PELO ALUNO ERNESTO CARRANZA.

LIÇÃO 3 - A DEBILIDADE DA CASA 'F7'.

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PRIMEIRA PARTE

Estimados amigos leitores desta página. Entrego-lhes esta simples e terceira lição. 

A maioria dos aficionados não conhecem a importância da casa 'f7' ('f2' para as brancas) nem a forma de explorar sua debilidade. COLOQUEMOS AS PEÇAS NO TABULEIRO EM SUA POSIÇÃO INICIAL E OBSERVAREMOS QUE TODOS OS PEÕES ESTÃO DEFENDIDOS, AO MENOS, POR UMA PEÇA. As peças, por sua vez, defendem-se entre si, com exceção das torres, que estão isoladas. Porém não é possível no início do jogo chegar até elas e atacá-las.

Feita esta observação, chegamos a conclusão que: DE TODOS OS PEÕES O MAIS FRACO É O DA COLUNA 'f', porque unicamente o rei o defende. Por conseguinte, a casa 'f7' ('f2' das brancas) é a mais fraca do tabuleiro e é precisamente nisso que se baseiam os "mates relâmpagos", como são os conhecidos "Mate Pastor" e "Mate de Legal".

O PONTO 'f7' E 'f2', ESTANDO UNICAMENTE DEFENDIDO PELO REI, É PERFEITAMENTE POSSÍVEL TOMÁ-LO COM DUAS PEÇAS QUE O ATAQUEM e sobrevém fatais conseqüências, porque entram com xeque, que pode ser mate e definir a partida. Não é demais, aqui, reproduzir o "Mate do Pastor".


1.e4 e5 2.Bc4 Cc6 3.Df3 

Ou 3.Dh5 Cf6 4.Dxf7#

3...d6?? 

Ou 3...Bc5??

4.Dxf7# 

Como já dissemos, o mate se produz ao tomar a dama a casa 'f7'. Devemos esclarecer, ainda que todos saibam, que este mate pode ser dado em um novato que não saiba mover as peças para se defender ou por um descuido do negro (ou do branco), pois se as negras houvessem jogado neste exemplo 3... Cf6 (se a dama branca estivesse em 'f3') ou 3...g6 (se estivesse em 'h5') o perigo estava afastado e as negras ficariam em melhor posição.

SEGUNDA PARTE

Passemos ao mate criado por Mister legal, que também se baseia na debilidade do ponto 'f7'.

1.e4 e5 2.Cf3 Cc6 3.Bc4 d6 4.Cc3 Bg4 5.h3 

Esclareçamos que a jogada 5.h3 era necessária. Este mate, tal como foi criado por Mr. Legal, não incluía dito movimento e se jogava diretamente 5.Cxe5, baseando-se, unicamente, em que o negro não veria a cilada e tomaria a dama. 5.Cxe5. Porém se o negro adverte a combinação e joga: 5...Cxe5 apoiando seu bispo e atacando o bispo branco de 'c4', forçaria o branco a jogar . 6.Be2 e as negras acabariam com um cavalo a mais.

5...Bh5 6.Cxe5 Bxd1

Se 6...Cxe5 7.Dxh5 Cxc4 8.Db5+ Dd7 9.Dxc4 as brancas ganhariam um peão.; 6...dxe5 segue 7.Dxh5 ganhando um peão.

7.Bxf7+ Re7 8.Cd5# 

Quer dizer que: A COMBINAÇÃO DE LEGAL (com 5.h3) É SEGURA PARA QUEM A EXECUTA, JÁ QUE, SE NÃO CONSEGUE DAR MATE, FICA COM UM PEÃO A MAIS. Voltando a nosso tema, diremos que o mate se produz quando o bispo branco consegue tomar o peão de 'f7' (o outro movimento 8.Cd5# e complementar), o que demonstra, mais uma vez, a debilidade da casa 'f7' e quem não conheça esta fraqueza pode perder muitas partidas. Como se deve aproveitar esta debilidade? Isto veremos na terceira parte desta lição.

TERCEIRA PARTE 

A partida que vamos reproduzir nos dará uma idéia do que se deve fazer para aproveitar a debilidade da casa 'f7'. Foi jogada no Torneio de Hastings, entre Lajos Steiner (considerado por Alekhine como muito bom e serio aspirante ao campeonato do mundo) e o Inglês Normann. A partida se desenrolou assim:

BRANCAS: Lajos Steiner NEGRAS: Normann Defesa Siciliana

1.e4 c5 

A jogada do negro constitui a chamada "Defesa Siciliana", muito jogada nos grandes torneios e que e uma das defesas irregulares que se pode opor a 1.e4, em vez de responder diretamente 1...e5. A razão de que quase todos os mestres joguem algo irregular e que a abertura do peão de rei encerra muitas sutilezas, que e necessário conhecer. Com 1... c4, domina-se o ponto 'd5' e 'b5'.

2.Cf3 e6 3.d4 cxd4 4.Cxd4 a6 

A Defesa Paulsen. Esta variante (muito antiga) se joga com a idéia de por a dama em 'c7' e, mais adiante, o bispo em 'd6' com o objetivo de pressionar fortemente sobre o peão de 'h2' que, apesar de estar agora defendido pela torre, depois do roque do branco, estará apenas defendido pelo rei, devido a saída do cavalo de 'f3', o que obrigaria o branco a perder um tempo em trazer o cavalo ou defender o peão. O movimento 'a6' impede que o cavalo branco salte a casa 'b5' e desaloje a dama ou o bispo das casas onde as negras pensam colocá-los.

5.Cc3 

5.c4 é uma opção.

5...Dc7 6.Be2 

Vamos fazer outro comentário. Em geral, nas aberturas, qual dos bispos se deve desenvolver primeiro? Respondemos: o bispo do rei. Por que? Existem varias razoes: porque facilita o roque, porque corre por casas onde esta o rei contrario (o que possibilita sua aplicação para "cravadas" ou xeques) e sobretudo porque o bispo da dama, de sua casa inicial, dispõe da diagonal 'c1-h6'. Em quase todas as aberturas, ele já "joga" mesmo sem sair de sua casa inicial e convém esperar os acontecimentos para decidir a melhor casa desta diagonal ou levá-lo ao fiancheto. Jogando primeiro o bispo do rei, aproveita-se o tempo para mover "outra" peça.

6...d6?

Má jogada porque obstrui o plano que se deve segui na Variante Paulsen.

7.Be3 Cd7 8.0-0 b6

Se fizermos uma contagem de "tempos" (nos quais não se contam os movimentos de peões) teremos um saldo favorável ao branco. O branco já desenvolveu os dois cavalos, os dois bispos e fez o roque, um total de cinco "tempos". O negro moveu, unicamente, sua dama e um cavalo, ou seja, dois "tempos". 

Alem disso as negras desenvolveram (e pensam continuar desenvolvendo) primeiro seu flanco da dama, enquanto no flanco do rei suas peças não se movimentaram. Isto também é um pequeno erro, pois normalmente CONVÉM DESENVOLVER PRIMEIRO O FLANCO DO REI. Ao se decidirem por 8...b6, significa que as negras desejam desenvolver seu bispo da dama por fiancheto. Já sabemos que a um FIANCHETO DE DAMA O MELHOR E OPOR UM FIANCHETO DE REI (ver primeira lição). Porém, neste caso, já não é mais possível por motivos bastante visíveis. Entretanto, vemos que seria muito eficaz fazer algo parecido, colocando o bispo do rei em 'f3' em contraposição ao bispo negro. Como o branco tem tempo, aproveita para fazer outra jogada que serve para tomar decididamente o centro e apoiar ainda mais seu bispo, quando este estiver em 'f3'.

9.f4 Bb7 10.Bf3 Cgf6 11.De2

Em quase todas as partidas chega um momento em que é necessário mover a dama para 'estabelecer comunicação' entre as torres. O aficionado tem diante de si este problema: Em que lugar deve colocar a dama? Vamos dizer que, excetuando-se as partidas que se complicam de inicio, nesses casos A DAMA SÓ TEM TRÊS CASAS "BOAS" ONDE SE COLOCAR, QUE SÃO: 'e2', 'd2' ou 'c2'. Em qualquer das outras quase sempre estará exposta a ataques. Esta é a razão por que L. Steiner jogou 11.De2.

11...Be7 

Se 11...0-0-0 As negras podiam jogar 11...0-0-0 porém isso seria muito perigoso. QUANDO HÁ DOIS BISPOS CONTRÁRIOS APONTANDO PARA UM FLANCO, NÃO CONVÉM ROCAR DESSE LADO. 

As razões saltam à vista: se as negras tivessem feito o roque grande, rapidamente entra uma combinação que poderia ser: 12.Cdb5 axb5 13.Cxb5 Db8 14.Dc4+ Cc5 15.b4 recuperando a peca, ganhando um peão e tendo um ataque imparável. As negras, então, preferiram preparar seu roque curto, jogando 11......Be7, porém a isto segue uma jogada que enriquece as variantes e sub-variantes na Defesa Siciliana ainda hoje. A idéia consiste em "assaltar" o flanco do rei mediante uma "carga" de peões. Esta variante não é nada agradável para o segundo jogador porque logo será desalojado seu cavalo de 'f6' e as peças brancas exercerão uma pressão muito forte sobre o roque. O negro opta então por ficar sem roque e agüentar o firme o "chumbo".

12.g4 h6 13.g5 Ch7 14.g6 

Chegamos ao que nos propúnhamos: mostrar a DEBILIDADE DA CASA 'f7'. O lance g6 decide a partida porque este peão ataca o ponto referido e terminara por tomá-lo, ganhando espetacularmente.

14...Chf8 

14...fxg6 não é recomendável devido a 15.Cxe6 atacando a dama e o peão de g7, permitindo a "entrada" das peças brancas. As negras devem jogar engenhosamente para sair desta situação.

15.Bh5! Bf6

15...Cxg6 não servia porque 16.Bxg6 fxg6 17.Cxe6 ganhando.; 15...fxg6 Tampouco serve devido a 16.Bxg6+ Cxg6 17.Dh5 seguido de f5.; 15...f6 este avanço também não é bom.

16.gxf7+ Re7 17.Cxe6! 

QUANDO O REI PERDE O ROQUE E ENTRA NA SEGUNDA LINHA, SEMPRE HÁ QUE TRATAR DE ATRAI-LO AO CENTRO DO TABULEIRO PORQUE ALI E MAIS FÁCIL EXECUTAR O MATE.

17...Cxe6 

Se17...Rxe6 18.Cd5 seguido de 20.- Dg4 ++

18.Cd5+ Bxd5 19.exd5 Cdc5 

19...Cec5 não resolve, porque segue 20.Bxc5+ Rf8 21.De8+ Txe8 22.fxe8=D#

20.Rh1 Thc8 21.Bxc5 bxc5 22.Dxe6+ Rf8

22...Rd8 segue 23.De8#

23.Tae1 De7 24.Df5 

e as negras abandonam. 

CONCLUSÃO: 

As negras abandonam porque a dama agora esta ameaçando entrar pela casa 'h7' e dar mate em 'g8', o que não é possível evitar de nenhuma maneira. Por que não é possível evitá-lo? Porque o ponto 'f7' está cercado. Eis ai a importância que tem dita casa, que é a mais fraca do tabuleiro. Tudo consiste em saber explorar essa debilidade e seguramente isso decidirá a partida. 

Prezados amigos leitores. Espero que minhas lições contribuam a melhorar seu jogo. Fico muito grato pelos que me enviaram e-mail de felicitações pelas mesmas. Logo, farei chegar até vocês a quarta lição e muitíssimo obrigado por suas opiniões. 

Professor. Erich Gonzalez 

e -mail: edgonzal@luz.ve 

(Tradução: Elias Muniz) 1-0

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