domingo, 9 de janeiro de 2011

Famoso apenas por um lance


0 caso do aficionado que ficou famoso com um lance apenas pertence ao folclore enxadrístico e já foi contado em prosa e verso, mas, mesmo assim, o seu interesse perdura e encerra alguns detalhes curiosos, dignos da apreciação de nossos freqüentadores.
Tudo começou em 1875, por ocasião de uma partida travada entre o frei Vivian Fenton e William Potter, no "City of London Chess Club". Mencionada partida produziu um final destinado a ocupar um lugar de relevo nos anais enxadrísticos, embora a sua importância só tenha obtido repercussão vinte anos depois de jogado, graças ao colunista Georges Emile Barbier, em sua seção de xadrez no jornal "Weekly Citizen", de Glasgow, Escócia, em 27.04.1895. 0 final apresentado foi o estampado no diagrama nº 1, com o enunciado: "As Pretas jogam e empatam".
Na semana seguinte, o próprio Barbier encarregou-se de fazer uma pequena mudança de caráter meramente estético no final: situou o peão das Brancas em "c6", conforme aparece no diagrama nº 2, esclarecendo que, neste caso, "As Brancas jogam e as Pretas conseguem empatar". Decorridos dez dias, um dos freqüentadores do círculo de xadrez de Londres, o monge espanhol Fernando Saavedra tomou conhecimento do assunto e procurou descobrir a solução, achando de pronto a seguinte resposta: 1 c7 Td6+ 2 Rb5 Td5+ 3 Rb4 Td4+ 4 Rb3 Td3+ 5 Rc2 Td4! 6 c8=D Tc4+!! 7 Dxc4, pat.
De espírito especulativo e mente inquiridora, Saavedra não ficou satisfeito com a solução encontrada e sentiu que o final ainda continha alguma nuance que havia passado despercebida de todos. De súbito, à semelhança de Arquimedes, exclamou: "Achei! As Brancas, no 6º lance, ao invés de Dama, devem fazer uma Torre! Neste caso, a igualdade material é superada pela ameaça de mate das Brancas em "a8". forçando a defesa 6 ... Ta4 que seria contestada com 7 Rb3!., com a dupla ameaça: mate e captura da torre!"
Esta brilhante solução suscitou o entusiasmo de Barbier, fazendo com que ele publicasse uma vez mais o final. Assim, na edição do "Weekly Citizen" de 18.05.1895, estampou a nova versão e teve a magnanimidade de destacar que se tratava de uma descoberta feita por Fernando Saavedra, com os dizeres: as Brancas jogam e ganham!
Deste modo, esse monge espanhol ficou com todas as glórias e passou para as páginas da história do xadrez graças unicamente a uma simples, embora engenhosa jogada!
Por último, merece ser registrado que a idéia de Saavedra tem despertado a capacidade criadora de notáveis compositores de finais como revelam os seguintes exemplos.
0 diagrama nº 3 focaliza um estudo de autoria do talentoso finalista russo Aleksey Troitsky , divulgado em 1924, na publicação "Ceske Slovo". com o anúncio: As Brancas jogam e ganham.
A beleza do tema é revelada de forma magistral, a saber: 1 h7 Tg5+ 2 Rxd6 Txh5 3 Rc7 (Ameaçando mate de Torre em "a2") 3 ... Be6 4 Rb8 (O mate agora é em "d6") 4 ... Bd5 5 Txd5! Txd5! 6 hg=T! (Se 6 h8=D? Tdg+! 7 Dxd8 pate!) 6... Td6 7 Rc7!. e ganham, pois a dupla ameaiça - mate e captura da Torre - não pode ser anulada.
0 diagrama nº 4, no qual as Brancas jogam e ganham, é um estudo de autoria do consagrado finalista russo Mark Liburkin, transcrito na revista "Xadrez na URSS" em 1931,no qual o "tema de Saavedra" é realçado com muito engenho, como mostra a sua solução: 1 Cc1, com as seguintes alternativas: a) 1... Txb5 2 c7 Td5+ 3 Cd3! Txd3+ 4 Rc2 Td4 5 c8=T! Ta4 6 Rb3 e ganham; b) 1 ... Td5+ 2 Rc2 Tc5+ 3 Rd3 Txb5 4 c7 Tb8! 5 cxb8=B! e ganham.
(Fonte: BC Café, Coluna Ronald Câmara)

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