quarta-feira, 11 de março de 2015

VI Memorial Bobby Fischer - Faltam 2 dias



Bobby Fischer: Uma vida em 30 dias
(Extratos do Vol. 4 do livro 'Meus Grandes Predecessores'' de Garry Kasparov - Ed. Solis)

 Depois da vitória de Fischer no match da semifinal do Candidatos, contra Larsen, diz Kasparov: Assim, no caminho para o match pelo campeonato mundial, havia somente mais uma barreira a ser superada. Mas que barreira! Em contraste com os inimigos já conquistados, dessa vez Fischer enfrentava um adversário que possuía não somente uma experiência única no jogo de matches (três matches no mais alto nível!), mas também raras qualidades de luta. Não era sem razão que Petrosian era chamado de “Tigran de Aço”: sua tenacidade na defesa, seu incrível senso do perigo, sua lendária e fenomenal habilidade em esperar, como um animal, e então subitamente desferir um golpe mortal. Um jogador assim não é superado facilmente...

Era evidente que no match final do Torneio dos Candidatos (Buenos Aires, setembro-outubro de 1971) não se podia esperar um “blitzkrieg” [termo alemão para "guerra-relâmpago - Nota do RC]. Ambos os jogadores eram famosos pela sua invencibilidade (durante os três anos passados, Fischer havia perdido somente 3 partidas em 114!) e ambos tinham passado invictos pelas quartas-de-finais e semifinais. Se bem que enquanto o norte-americano tinha atingido um escore sem precedentes de 100% nesses matches, Petrosian tinha conseguido marcar somente duas vitórias em 17 partidas.

Na sequência da obra, Kasparov analisa em detalhes a 1ª partida do match, na qual Petrosian lança uma novidade teórica no lance 11 e cria reais dificuldades para Fischer. Ao fim da partida, porém, Fischer vence! Diz Kasparov: Uma batalha grandiosa!

Não, isso era impossível de acreditar: Fischer vencera outra vez – sua 13ª vitória sucessiva em matches de Candidatos! E se sua série final em Mallorca for incluída, dezenove no total! Eu acho que muitos devem ter imitado Taimanov ao exclamar nesse momento: “Esse Fischer, ele é invulnerável, ele é de algum modo enfeitiçado?”

Sem dúvida, esse foi um duro golpe para Petrosian: obter tal posição na abertura e “desperdiçar” tal novidade! Contudo, para surpresa geral, o ex-Campeão Mundial rapidamente soube recompor suas forças e brilhantemente venceu a super aguda 2ª partida. Isso foi uma sensação! Os espectadores aplaudiram de pé, incapazes de acreditar totalmente no que havia acontecido. De acordo com uma testemunha ocular, “até por sua aparência era óbvio que o americano estava chocado”. Foi aqui que Fischer foi testado: estava abalado ou não? Ele estava abalado!

Na 3ª partida Petrosian obteve novamente uma boa posição, ganhou um peão e tinha chances de vitória, mas no apuro de tempo demonstrou falta de presença de espírito: ele decidiu arrastar a partida para o adiamento, com o objetivo de encontrar em casa o caminho mais claro para a vitória e... pela primeira vez em sua vida caiu numa repetição de posição por três vezes.

"(...) Petrosian ficou tão incomodado com esse empate quanto com sua derrota na primeira partida” (Baturinsky). Um momento altamente dramático! O americano teve sorte e evitou uma segunda derrota consecutiva, que poderia ter mudado substancialmente o curso do match. Foi depois desta partida que Petrosian começou a desenvolver a sensação de que Fischer era invulnerável...

Na 4ª partida o ex-Campeão cometeu um erro psicológico evidente: ao fazer um rápido e insípido empate com brancas (...), ele deixou seu oponente se recuperar completamente. Disse Fischer: “No começo [do match] eu não me sentia muito bem. Mas quando na 4ª partida, na qual ele tinha as brancas, logo desde a abertura Petrosian evitou qualquer ‘agressão’, eu sabia que eu venceria o match”.

Na partida seguinte Petrosian novamente superou seu oponente com pretas, dessa vez numa velha variante da Defesa Petroff, sem poucos movimentos além da sexta fila, mas novamente ele desperdiçou sua vantagem...

Assim, após cinco partidas o marcador estava igualado: 2(1/2)-2(1/2). Por fora parecia que tudo estava indo bem para Petrosian, mas não era bem assim. Averbakh: “Percebi em seu comportamento os mesmos sinais que foram observados na fase final de seu segundo match com Spassky. Ele se tornou muito sensível e extremamente irritadiço. A impressão era que Tigran estava achando duro enfrentar a tensão crescente. Issso significava que a qualquer momento uma crise podia ser esperada, e ela chegou na 6ª partida.”

E após analisar a 6ª partida, vencida por Fischer, Kasparov estuda também, em detalhes o 7ª confronto do match, arrematando com o seguinte comentário: Essa partida esplêndida, que Fischer considerou ser sua melhor conquista em todo o match, se equipara com a 4ª partida do seu match com Taimanov. É ainda mais valiosa, pela razão de que nessa ocasião o Grande Mestre americano superou um renomado especialista em finais de partida.

Mais duas vitórias encerraram o match: 6(1/2)-2(1/2). Essa foi uma vitória absolutamente esmagadora! Será que Petrosian alguma vez imaginou que naquela época pudesse perder quatro partidas seguidas?...

O final do match em Buenos Aires chocou o mundo do xadrez. Até Botvinnik, que não era inclinado a misticismo, novamente, como após o match em Denver, começou a falar sobre milagres: “É difícil falar sobre os matches de Fischer. Desde que ele começou a jogá-los, os milagres começaram. Seu match com Taimanov foi surpreendente, o de Larsen ainda mais estonteante, e o match Petrosian-Fischer foi totalmente assombroso. Nos dois primeiros matches tudo estava claro para o público, mas o que aconteceu em Buenos Aires permanece um mistério até agora. Da 1ª a 5ª partidas Petrosian dominou essencialmente, mas nas quatro remanescentes ele ‘desceu’ para o nível de Taimanov e Larsen... No geral Spassky é agora superior a Fischer. Essa é a minha firme convicção. Mas como o match entre eles vai terminar, as características e o resultado, eu não me aventuraria a prever, já que em tempos recentes começaram a ocorrer milagres no mundo do xadrez.”

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