Tradição no interior de Goiás, jogo é rotina para os alunos, acostumados a competir
Desde o início do ano letivo, alunos das duas escolas públicas municipais de Chapadão do Céu, cidade de 15 mil habitantes, a 489 quilômetros de Goiânia, aprendem as estratégias para chegar ao xeque-mate, em diferentes jogadas. A ideia da secretaria municipal de educação é levar adiante projeto de ensino de xadrez capaz de aliar os benefícios desse milenar jogo de tabuleiro como recurso pedagógico educativo o resgate da tradição da cidade em participar de competições.
“Nossa cidade já teve grande prestígio nos campeonatos de xadrez, e precisamos trazer esse reconhecimento de volta”, explica Álvaro Barbosa Damacena, um campeão da cidade, e de Goiás, contratado pela secretaria para ensinar xadrez nas duas escolas e também na biblioteca municipal. “Eu participava de uma equipe e sempre viajava pelas cidades do estado para competir, e é isso que queremos para nossos alunos”, diz o professor, que aprendeu a jogar xadrez aos 12 anos, quando era aluno da Escola Municipal Flores do Cerrado. Naquela época, o jogo fazia parte das atividades da aula de educação física.
Hoje, além dos alunos da escola onde estudou, Álvaro ensina também os estudantes da Escola Municipal Dona Amélia Garcia Cunha. Assim que eles estiverem prontos, o professor pretende programar uma competição entre as duas unidades de ensino. Depois, todos serão incentivados a participar dos campeonatos regionais. O xadrez está tão incorporado à cultura da cidade que, no ano passado, os alunos do turno integral da escola Flores do Cerrado levaram o jogo para o desfile cívico de 21 de agosto, quando se comemora a emancipação política de Chapadão do Céu — em 1991, passou de povoado a município.
Rotina — Os tabuleiros de xadrez fazem parte da rotina escolar há dez anos, mas até o ano passado, somente os 300 alunos do turno integral, oriundos das fazendas de milho, soja e cana-de-açúcar da região, podiam participar da oficina, na hora do recreio. “Agora, com a contratação do professor pela secretaria de educação do município, os alunos do regular também podem participar”, explica a diretora, Rozane Pelisson Filipin. “Isso é importante porque o xadrez ajuda muito no raciocínio lógico exigido pela matemática.”
Na hora do recreio, a professora de matemática Edjânia Rodrigues Sousa Alves acompanha e joga com os alunos participantes das oficinas. “Depois que começaram a jogar, eles passaram a ver os problemas da matemática como desafios que precisam ser vencidos”, diz a professora. “Eles persistem mais em resolvê-los.”
Edjânia aprendeu a jogar xadrez durante o curso de licenciatura em matemática na Universidade Estadual de Goiás (UEG), campus de Santa Helena de Goiás, a 345 quilômetros de Chapadão do Céu.
Espera — Na escola Dona Amélia Garcia Cunha, o xadrez é oferecido aos estudantes no contraturno, duas vezes por semana. “Temos 30 alunos participando e 12 na fila de espera”, afirma a diretora, Cleci Filipin. “Infelizmente, não podemos abrir mais vagas, pois queremos que o professor possa atender a todos com qualidade.”
Cleci também elogia a iniciativa da Secretaria de Educação de Chapadão do Céu de recuperar uma tradição da cidade. “É uma atividade que vai ajudar muito na disciplina e na sociabilidade dos alunos porque cria o hábito da concentração”, afirma.
O professor Álvaro Damacena, responsável por ensinar a arte milenar do xadrez a estudantes do ensino fundamental das duas escolas municipais, nota mudanças positivas no comportamento das crianças e adolescentes: “Os alunos hiperativos já estão mais calmos e percebem que é preciso deixar o impulso de lado e ter paciência para entender a jogada e o adversário”, explica. “E isso é um aprendizado que serve para as demais atividades da escola e para as decisões da vida.”